Á Mulher depressiva

Com Paula Nogueira



Tristeza por longos períodos de tempo, falta de ânimo, energia e vontade, irritabilidade, angústia, apatia, perda da capacidade de sentir prazer e alegria na vida, baixa auto-estima, sensação de medo ou insegurança, dificuldade de concentração, alterações de sono e apetite são alguns dos sintomas mais comuns da depressão.

Em casos mais graves, ocorrem pensamentos negativos, de fracasso, de incapacidade, de culpa, chegando até a idéias de suicídio.

Depressão, tristeza e mau-humor

A depressão é diferente da tristeza comum, pois costuma ter duração maior e inunda a vida da pessoa como um todo. A tristeza passageira está quase sempre associada a algum evento adverso da vida e costuma desaparecer em pouco tempo, na medida em que ele é superado. O "mau humor", caracterizado pela irritabilidade, nervosismo, negativismo, pessimismo, pode ocorrer de modo passageiro ou estar associado à depressão leve, caracterizando a distimia. Particularmente na mulher esse quadro é confundido com "xilique, frescura" e ela, em vez de procurar auxílio adequado, se fecha ainda mais, "envergonhada" por essa "fraqueza". É fundamental vencer preconceitos nessa hora e ir em busca do médico, para que ele possa avaliar o caso e encaminhar o tratamento.

Adolescência, pré-mênstruo, ciclo gestacional e menopausa

A depressão é mais freqüente na mulher do que no homem, atingindo cerca de 20% delas em algum momento ao longo da vida. Quadros depressivos aparecem mais freqüentemente pela primeira vez no fim da adolescência e início da idade adulta, no entanto, podem ocorrer em todas as idades, da infância à terceira idade. A mulher é particularmente vulnerável à depressão nos períodos de oscilações hormonais intensas: período pré-menstrual, gravidez e puerpério, e menopausa.

No período pré-menstrual, a famosa TPM (tensão pré-menstrual), além das queixas físicas bem conhecidas de aumento e dor nas mamas, inchaço no corpo, etc, ocorrem, em cerca de 8% das mulheres, labilidade emocional, tristeza, irritabilidade, falta de energia, mudanças de apetite e do sono.

Esses sintomas tipicamente diminuem ou desaparecem após a menstruação, voltando no período pré-menstrual seguinte. Durante a gestação e especialmente no pós-parto, ocorre freqüentemente o chamado blue (referência ao gênero musical americano, que se identifica por conter canções tristes), caracterizado por uma depressão leve, em geral de curta duração. Em cerca de 10 a 20% das mulheres, instala-se um quadro depressivo mais grave e duradouro. Socialmente, gestação, parto e a chegada do "príncipe" ou da "princesa" são vistos como períodos de alegria e regozijo e há uma "cobrança" para que a mulher esteja exuberante. Coloca-se aqui um peso ainda maior para a puérpera (a mulher que deu a luz), que se sente culpada por estar deprimida e não corresponder às expectativas de todos.

Já no período da menopausa, além das mudanças hormonais, o impacto psicológico do "fim da menstruação", das alterações físicas e da perda de papéis sociais (p. ex., filhos que se casam, a chamada "síndrome do ninho vazio") podem contribuir para o desencadeamento da depressão.

Tratamento

Um episódio de depressão pode durar alguns meses, se não for tratado; em cerca de metade das pessoas, ocorre apenas um episódio ao longo da vida, na outra metade os episódios se repetem, caracterizando a depressão recorrente. Em muitas circunstâncias, principalmente se não for tratada, a depressão pode se tornar crônica, perdurando por anos, sem períodos de melhora total.

As causas da depressão vêm sendo muito pesquisadas. Sabe-se que a predisposição hereditária é importante em alguns casos e a ela se associam fatores precipitantes, em geral ligados a situações de estresse (perdas significativas, conflitos familiares e conjugais). Alterações hormonais, especialmente da glândula tireóide, também se relacionam à depressão na mulher. De modo geral a depressão é resultado da somatória de todos esses fatores – biológicos, psicológicos e sociais – daí a importância de que o tratamento leve em consideração todos eles.

Estudos mostram que na depressão ocorrem alterações químicas no cérebro, envolvendo substâncias que fazem a comunicação entre as células nervosas (neurônios). Essas substâncias são chamadas de neurotransmissores; os principais deles que se encontram alterados na depressão, são a noradrenalina e a serotonina. Os medicamentos usados no tratamento da depressão corrigem as alterações desses neurotransmissores, promovendo o re-equilíbrio químico no cérebro.

O diagnóstico da depressão requer avaliação especializada e é feito a partir do relato minucioso das queixas da paciente. Se necessário, o(a) médico(a) pedirá exames laboratoriais para complementar a avaliação. Tais exames ajudam a identificar se a depressão está sendo provocada por alguma doença física (p. ex., hipotireoidismo).

O tratamento da depressão é feito com medicamentos chamados antidepressivos. Há, no mercado brasileiro, vários antidepressivos disponíveis, com diferentes modos de ação (alguns agem mais sobre a serotonina, outros na noradrenalina, outros em ambos os neurotransmissores). Tais medicamentos devem ser utilizados por tempo prolongado, pois demora algumas semanas para começarem a fazer efeito. A melhora da depressão vai ocorrendo gradualmente: em geral a pessoa volta a se sentir "normal" somente após cerca de 3 a 4 meses de tratamento. Mesmo após esse período, é importante manter o tratamento por mais alguns meses, para evitar que haja uma recaída da depressão. Nos casos mais graves de depressão, quando a pessoa manifesta idéias de suicídio, é fundamental um acompanhamento intensivo no período inicial do tratamento com os antidepressivos, pois os vários sintomas da depressão não melhoram com a mesma rapidez: ânimo e vontade melhoram mais depressa, tristeza e idéias de suicídio são as últimas a melhorar, daí o risco de que a pessoa no início do tratamento venha a reunir forças para tentar o suicídio. Além do tratamento medicamentoso, o apoio psicoterápico é importante para ajudar a pessoa a lidar melhor com as dificuldades pessoais, que podem ser precipitantes de depressão. Nos casos em que os fatores psicológicos e sociais têm um peso importante na origem da depressão, a psicoterapia é fundamental, pois ajudará a mulher a elaborar as dificuldades trazidas pelo período da vida em que ela se encontra.

Depressão é uma doença freqüente para a qual dispomos de recursos terapêuticos muito eficazes. Por ser uma doença relativamente fácil de tratar é importante vencer preconceitos e buscar tratamento tão logo os sintomas sejam percebidos. O resultado certamente será uma melhora significativa da qualidade de vida.

Serviço:
Prof. Dr. Mario R. Louzã
Médico psiquiatra e psicanalista, doutor em Medicina pela Universidade de Würzburg, Alemanha. Médico Assistente do Instituto de Psiquiatria do HC-FMUSP.

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