Doença Bipolar: Pesquisa Cientifica

do UNIVERSO FEMININO


Doença Bipolar: Veja o que diz a Pesquisa Científica.


Conhecidos como a década do cérebro, os anos 90 foram um período de avanços na investigação da estrutura e funcionamento deste órgão. Que impacto tiveram essas pesquisas no conhecimento atual da doença bipolar? Será possível apontar causas para este problema?


Em entrevista a Filipe Arriaga, ficamos a par sobre o que já se sabe e o que os cientistas ainda não dominam ao nível das causas e tratamentos para esta doença.


Que balanço faz quanto à evolução do conhecimento da doença bipolar nos últimos anos?


Filipe Arriaga - Nos últimos anos foram estabelecidos algoritmos terapêuticos bem definidos, que são objeto de consenso internacional. Por exemplo, há uns anos, só se dava um estabilizador de humor ao fim de várias crises, enquanto hoje uma primeira crise maníaca é critério para começar precocemente o tratamento. Há uma muito melhor definição das regras e um melhor conhecimento clínico, com uma melhor tipificação da doença e das suas variantes. Por outro lado, houve um alargamento das opções terapêuticas em termos de estabilizadores de humor, embora, pessoalmente, considere que tem que haver alguma reserva e cuidado nesta matéria. Todos estes aspectos não deixam de se traduzir um enorme avanço, comparando com a situação de há 20 ou 30 anos, ou menos do que isso.


Que avanços científicos foram conseguidos na investigação das causas da doença?


Filipe Arriaga - Os anos 90 foram chamados a década do cérebro devido às descobertas nesta área. No entanto, os dados acumulados não permitiram, até à data, identificar padrões específicos da doença. Não quer dizer que, pelo caminho, não se tenham acumulado conhecimentos, por exemplo em relação aos principais neurotransmissores. Mas, mais uma vez, sendo específicos, começamos apenas a referir que o autor x encontrou determinado tipo de alterações e o z encontrou outras.


Quais são as tendências atuais de investigação nesta área?


Filipe Arriaga - A investigação atual orienta mais no sentido do que se passa a nível do chamado segundo neurônio, isto é, o neurônio que desencadeia uma resposta como reação ao sinal químico recebido através do neurotransmissor. Isto é, aquilo que se passaria de errado não teria primariamente a ver com a quantidade, por exemplo, de neurotransmissores, mas com possíveis alterações intracelulares hormonais. Poderá ter a ver com o funcionamento dos receptores do segundo neurônio ou com o próprio interior da célula, que desperta cada vez mais interesse. Assim, seriam os mecanismos internos de transmissão de sinal dentro da célula que poderiam estar alterados. Este interesse cada vez maior no que se passa no interior do segundo neurônio remete para uma área, virtualmente, com potencial de aplicação em todos os ramos da medicina, que é a chamada biologia molecular.


Que avanços se podem esperar a médio e longo prazo?


Filipe Arriaga -Pode esperar que a biologia molecular, que traz descobertas muito interessantes mas até agora com excepcionais aplicações práticas, consiga tratamentos inteligentes para esta doença em particular, já que tem uma componente genética muito forte. E também aquilo que, piedosamente, se pode sempre esperar, que estes avanços se aproximem da genese da doença e que apareçam novos tratamentos. Neste momento não há, infelizmente, nenhum novo medicamento específico para a doença que esteja sequer em apreciação e não se pode esperar o anúncio de uma novidade revolucionária. No entanto, seria importante a descoberta de um marcador de diagnóstico que ajudasse na detecção precoce da doença ou até das crises, já que as alterações que atualmente se conhecem não têm sensibilidade nem especificidade suficiente.

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