Três em cada quatro portadores da síndrome do encarceramento ‘são felizes’, diz pesquisa



A doença, retratada no livro “O Escafandro e a Borboleta” e em filme homônimo de 2007, “aprisiona” o paciente em seu próprio corpo – ele continua consciente e capaz de pensar, mas não consegue se mover ou falar.

A comunicação com o mundo externo é feita através dos olhos: piscadelas e outros movimentos servem para soletrar palavras e dizer “sim” ou “não”. Parte dos pacientes consegue recuperar algumas funções motoras.

O estudo da Associação Francesa para a Síndrome Locked-in, publicado na versão online do British Medical Journal, diz que, de 65 pacientes pesquisados, 72% se consideram felizes. Outros 7% relataram querer ajuda para morrer.

Mas há uma ressalva à pesquisa: os estudiosos alertam que o resultado pode ter ficado alterado caso o grupo que se recusou a tomar parte no estudo seja também o grupo mais infeliz de pacientes com a síndrome.

Ainda assim, para especialistas, o resultado, além de reacender o debate sobre suicídio assistido, mostra que não é prudente fazer deduções sobre o estado de ânimo de pacientes que sofrem da paralisia.

Funções motoras

A síndrome do encarceramento geralmente é desenvolvida após um derrame ou hemorragia que afete a parte superior do tronco cerebral, destruindo quase todas as funções motoras do paciente, mas deixando suas funções mentais intactas.

Os participantes da pesquisa francesa responderam ao questionário com o movimento de seus olhos. Cerca de 55% dos entrevistados conseguiram recuperar um pouco de sua fala, e 70% conseguiram voltar a mover alguns membros.

A maioria se declarou feliz, e 68% deles afirmaram nunca ter tido pensamentos suicidas.

Os que tinham a síndrome há mais tempo em geral eram os mais felizes do grupo.

“Sugerimos que os pacientes recém-acometidos da síndrome sejam informados de que, se receberem o devido cuidado, têm uma chance considerável de voltar a viver feliz”, comentaram estudiosos da Universidade de Liège, na Bélgica, que fizeram parte da pesquisa.

O médico Adrian Owen, do Centro para o Cérebro e a Mente da Universidade de West Ontario (Canadá), disse que a pesquisa aponta que “não devemos deduzir que sabemos como deve ser estar nessas condições”.

“Imagino que a maioria de nós ache que a vida não valeria a pena dentro de um corpo sem vida, mas esse estudo mostra que não é sempre assim. Com base nos resultados, seria imprudente fazer suposições sobre o estado mental dos pacientes.”

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