História Real: Sofro de Epilepsia


SUZIMARA MEDEIROS
editora do História de Vida, do Universo Feminino

Ainda não andava nem falava quando sofreu a primeira crise de epilepsia. Salomé Oliveira tinha apenas 10 meses quando uma convulsão, após uma queda da cama, deu o primeiro sinal de alerta.

Hoje, com 31 anos, confessa que não foi fácil crescer com uma doença que a tornava diferente dos outros mas que, graças à operação a que foi submetida há um ano, recuperou uma nova auto-estima e confiança no futuro.

Até aos 10 meses de idade, Salomé Oliveira era um bebê como todos os outros. À espera de mostrar uma nova surpresa, uma nova graça todos os dias. Uma convulsão após uma queda da cama foi o primeiro sinal de alarme e o início de um novo ciclo: conviver com a epilepsia.

Não havia casos na família mas o diagnóstico foi imediato e sem margem para dúvidas: ''Disseram logo que era uma crise epiléptica mas que podia ser uma crise única ou o início de epilepsia crônica ou benigna'', explica. O tempo confirmou o pior cenário e há 31 anos que Salomé Oliveira sofre de epilepsia.

Lidar com a diferença e o olhar dos outros

A convivência com a epilepsia não foi fácil para Salomé, sobretudo, numa idade mais jovem, causadora de uma enorme insegurança e instabilidade.

''Fiquei muito afetada, principalmente, do ponto de vista social. Quando fui para a escola era muito ativa e irrequieta mas depois de começar a conviver com os meus colegas a situação alterou. Eles assistiam às minhas crises, chamavam deficiente mental e faziam graça de mim, razão pela qual comecei a isolar socialmente. Passava o recreio sentada num canto sozinha ou conversando com alguma empregada'', recorda com tristeza.

Infelizmente, um ataque epiléptico não escolhe hora nem lugar para acontecer. E, em muitos casos, dá quando menos se espera, longe de casa e daqueles com quem nos sentimos protegidos, à mercê do desconforto da diferença e da solidão.

''Já tive muitas crises publicamente. Durante anos ficava triste, revoltada e envergonhada. Depois conformei e via essa limitação como muitas outras que determinadas pessoas têm. Por exemplo, os Jogos Paraolímpicos para mim resumem tudo. Esses atletas têm muitas limitações mas não ficam frustrados a pensar nisso. Lutam!'', compara.

Apesar de ter começado a gerir as crises, Salomé admite que é muito importante que os outros à nossa volta saibam o que se passa conosco e sentiu vontade de minimizar a falta de informação que a sociedade tem sobre esta doença. ''Aos poucos percebi que as pessoas resumiam epilepsia a crises convulsivas, o que não é verdade. A epilepsia engloba muitos tipos de crises além das convulsões, entre elas as que eu tinha, que eram crises parciais complexas.'', afirma.

Para Salomé também foi uma aprendizagem saber viver com o olhar dos outros, o que nem sempre é fácil. Mas, em grande parte, depende da maneira como nos vemos e nos damos a ver aos outros. ''Sentia que os outros olhavam para mim de maneira diferente, mas agora acho que tinha essa impressão mas não era realidade. Como me sentia com limitações achava que os outros me avaliavam como sendo uma pessoa diferente das outras. Mas, analisando bem, não deve ser tanto assim porque, por exemplo, trabalho na mesma empresa há mais de 12 anos. Se me olhassem de maneira diferente a opção dos responsáveis certamente seria outra'', assegura com convicção e confiança nas suas capacidades profissionais.

Uma nova confiança depois da cirurgia

Salomé não esconde que a cirurgia a que foi submetida no ano passado contribuiu muito para um aumento de auto-estima. ''Felizmente, fui submetida com sucesso a uma cirurgia da epilepsia na qual me foi retirada a parte cerebral afetada que causava as crises, comecei a sentir muito diferente, para melhor'', revela.

Resultado: hoje tem 'uma auto-estima, auto-confiança e independência muito maiores e, consequentemente, um grau de ansiedade, sensibilidade etc., normalizada', afirma.

Antes desta operação, apesar de seguir um tratamento rigoroso, Salomé não tem medo de reconhecer que sentia que determinados momentos importantes da vida fugiam entre as mãos. ''Agora, não. Sinto como quem anda a estudando. Todos os dias estou aprendendo alguma coisa. Algo que antes do controle das crises não se passava'', conta.

Mesmo assim, Salomé vive um dia de cada vez, consciente das suas limitações: ''O mais aborrecido é não haver nenhuma estabilidade. Se pensasse, por exemplo, aproveitar o bom tempo de um Domingo para sair e nesse dia tivesse crises, sentia pior na fase pós-crises do que propriamente durante as mesmas. Tinha falta de força física e psicológica, de apetite, dores de barriga, fadiga, etc.'', explica.

Os conselhos de Salomé

Se Informe

''Investigue especificamente o problema que tem, recolha o máximo de informações através da internet, revistas, médicos, associações, etc. (sem que essas informações se tornem certezas absolutas) e, nas consultas, coloque todas as dúvidas que tem. A saúde não é como a matemática em que 2+2 são 4.''

Pense positivo

''A força psicológica afeta a doença mas a doença também afeta e muito a força psicológica. Pense positivo.''

Qual sua opinião, Dúvida? Nossa equipe quer ver você comentando e participando. Conversion Conversion Emoticon Emoticon