Uma proteina que elimina células pode evitar quimioterapia e cirurgias em mulheres com câncer de mama

PALOMA OLIVETO
colaboração para o Universo Feminino


Os tratamentos invasivos e o excesso de drogas tóxicas utilizados regularmente no combate ao câncer de mama podem ser substituídos, no futuro, por uma terapia bem menos agressiva. Uma equipe de cientistas do Centro Médico da Wake Forest University Baptist (WFUBMC, sigla em inglês), nos Estados Unidos, descobriu que níveis baixos de ferroportina, a única proteína conhecida que tem a função de eliminar o ferro presente nas células, estão associados às formas mais graves e recorrentes de tumores malignos nas mamas.

O estudo, publicado ontem na edição on-line da revista Science Translational Medicine, traz a esperança de que seja possível prever se um câncer poderá reincidir, com base nos níveis de ferroportina identificados no organismo. De acordo com os autores, a descoberta poderá ajudar as mulheres com dosagens excessivas dessa proteína a evitar tratamentos cirúrgicos ou quimioterápicos. “A quantidade de ferroportina pode nos ajudar a predizer se mulheres que tiveram câncer de mama voltarão a sofrer com o problema”, disse ao Correio Frank M. Torti, diretor do Centro de Estudos sobre o Câncer da WFUBMC, e principal autor do artigo.

Segundo Torti, a medição dos níveis de ferroportina no sangue poderá também ajudar a desenvolver uma nova terapia para pacientes com câncer de mama. “Existe um grupo de mulheres com alto risco de ter câncer de mama e que possuem altos níveis de ferroportina. Acredito que podemos conseguir ajustar nossos tratamentos de forma que essas pacientes evitem a quimioterapia. A capacidade de predizer quais mulheres poderão se beneficiar com outra terapia seria um grande avanço”, observa Torti.

Para chegar às descobertas descritas no artigo, a equipe de Torti realizou diversos experimentos no laboratório da WFUBMC. A partir da hipótese de que a dosagem de ferro fica alterada em pacientes com câncer de mama e que essa alteração pode ser uma peça importante no mecanismo de desenvolvimento do tumor, os cientistas, primeiramente, examinaram células humanas de câncer de mama e descobriram que, nelas, havia uma significativa redução da ferroportina, comparando-se a células mamárias saudáveis.

De acordo com Torti, há uma série de mudanças genéticas e protéicas nas células cancerígenas. Por isso, os pesquisadores passaram a investigar se a redução da ferroportina nessas estruturas contribuíam diretamente para o crescimento do câncer, ou se a alteração era apenas uma consequência da doença. Para fazer isso, os cientistas aumentaram artificialmente a quantidade de ferroportina, próximo aos níveis normais presentes em pessoas saudáveis, em linhagens de células cancerígenas agressivas.

Experiência

As células alteradas foram transplantadas em ratos de laboratório. Outro grupo de roedores recebem as estruturas cancerígenas com baixa dosagem de ferroportina. O que se observou foi que, no primeiro caso, o crescimento do tumor ocorreu de forma mais lenta. “A explicação para isso é simples. No caso do câncer, a habilidade de retirar o ferro das células é reduzida com a escassez de ferroportina. Como resultado, o ferro acumula-se nas células. As células cancerígenas requerem ferro, metal que permite ao tumor crescer mais rápido e, talvez, mais agressivo”, esclarece Suzy V. Torti, mulher de Frank e coautora do artigo. “Como a ferroportina pode remover o ferro das células, quando colocamos essa proteína de volta, a ferroportina remove os estímulos de crescimento do câncer. Nossa descoberta sugere que a ferroportina tem uma influência substancial no comportamento do tumor”, acrescenta.

A segunda etapa do estudo foi verificar os níveis de ferroportina em mulheres que são vítimas de câncer de mama, já que na primeira fase, os cientistas avaliaram apenas as células. Foram analisadas informações genéticas de 800 pacientes de vários países, desde a data em que foram diagnosticada com a doença até quando o tumor estava em estágios avançados.

Como imaginavam, os cientistas descobriram que a quantidade dessa proteína era menor nas portadoras de cânceres agressivos. “Descobrimos que os níveis de ferroportina são, de fato, um forte indicativo para a propensão do câncer de mama reincidir”, conta Frank Torti. “E é um indicativo bastante certeiro. Ele é capaz de dizer em qual grupo de risco as mulheres estão, independentemente de qualquer outro fator, como o tamanho e o grau do tumor, o estado dos nódulos linfáticos ou outras condições”, explica o cientista.

A próxima etapa da pesquisa será estender os resultados para um grupo populacional maior. “Estamos muito contentes que nós e nosso centro de pesquisas tenhamos feito uma descoberta que não apenas aumenta nosso entendimento da biologia básica do câncer de mama, mas poderá ser usada no tratamento das pacientes”, afirma Suzy Torti, que é professora do Departamento de Biologia da WFUBMC. Ela observa que o estudo foi focado no ponto de vista citológico e não tem relação com a ingestão do metal. Quando ingerido de forma apropriada, seja por meio de alimentos ou em forma de suplementos — nesse último caso, com supervisão de um profissional da área de saúde —, o ferro é uma substância vital para o organismo. A bióloga lembra que ninguém deve deixar de consumi-lo baseado no resultado da pesquisa.

Tecnologia lança luz sobre efeitos cirúrgicos

Um novo estudo realizado com sobreviventes do câncer de mama poderá ajudar os médicos a aliviar um efeito colateral comum desse tipo de tratamento, o linfodema — acúmulo anormal de líquido tecidual, o que resulta na ocorrência de nódulos. No caso das pacientes que passaram pela cirurgia de remoção do tumor, é comum que os fluidos se acumulem na região dos braços, causando desfigurações e debilitações que afetam a qualidade de vida.

O tratamento para os linfodemas varia, mas geralmente consiste em terapias como massagens linfáticas, que pressionam a área com o objetivo de fazer com que o excesso de líquido acumulado seja drenado e eliminado pelo organismo. Mas não há garantias de que o problema acabe. Ele pode até piorar em alguns casos. Agora, um grupo de pesquisadores da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, desenvolveu uma tecnologia que, de acordo com eles, promete ser mais precisa no monitoramento da efetividade do tratamento. Nove mulheres, seis delas com linfodema e três no grupo de controle, receberam uma injeção de uma substância que faz contraste sob raios de luz infravermelha. O contraste foi injetado no sistema linfático das pacientes. Quando exposta ao laser, a área atingida ficava fluorescente, revelando exatamente o tamanho e a localização dos linfodemas.

De acordo com os pesquisadores, que publicaram o resultado do experimento na edição inaugural da revista especializada on-line Biomedical Optics Express, a técnica de fluorescência detectou estatisticamente melhorias no fluxo dos fluidos através do sistema linfático imediatamente após as pacientes receberem o tratamento. Com isso, foi possível medir a eficácia das massagens linfáticas e das bandagens, outra técnica utilizada para drenar o excesso de líquido. Os cientistas, porém, alertam que será necessário um estudo mais abrangente para confirmar os resultados da pesquisa-piloto.

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