Salto alto pode provocar varizes, segundo estudo

Maria Helena Figueredo

O senso comum diz o contrário, mas uma pesquisa recém-divulgada pela Universidade de São Paulo (USP) faz um duro alerta para as mulheres: ficar bela pode ser uma questão de descer, e não de subir no salto alto. A aposta nesse tipo de calçado pode até atrair a atenção dos olhares masculinos, mas também aumenta a pressão nas veias da perna, favorecendo o surgimento das temidas varizes. É o que aponta o autor do estudo e cirurgião vascular, Wagner Tedeschi Filho, da Divisão de Cirurgia Vascular e Endovascular, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP).

Tedeschi Filho recrutou 30 mulheres, com idades entre 20 e 35 anos, para a pesquisa de mestrado "Influência da altura e do tipo de salto de sapato no retorno venoso da mulher jovem avaliada por plestimografia a ar", orientada pelo professor Carlos Eli Piccinato. Elas foram monitoradas em quatro situações: descalças, usando salto de 3,5cm, sobre salto agulha de 7cm e com salto plataforma (tipo anabela). As voluntárias foram submetidas aos testes uma única vez com cada tipo de calçado e Tedeschi Filho descobriu que, quando usavam salto, o organismo delas tinha mais dificuldade para fazer retorno venoso.

Esse é o nome dado para uma das atividades fundamentais da circulação: quando o sangue chega às pernas pelas artérias e volta pelas veias. Andar sobre as duas pernas criou uma séria dificuldade para o organismo: os pés e a perna ficaram distantes do coração. Enquanto o sangue desce com facilidade até os membros inferiores, precisa fazer um esforço muito grande para voltar ao coração. A luta contra a força da gravidade torna ainda mais complicada a tarefa do retorno. A sobrecarga ou desorganização desse circuito é uma das origens da maioria das doenças venosas.

O salto foi apontado como um dos causadores dessa disfunção. Usando um exame chamado plestimografia a ar, Tedeschi Filho conferiu a reação do retorno venoso aos diferentes tipos de calçado. "Um aparelho, semelhante ao de medir pressão no braço, foi acoplado à perna e conectado a um computador. Quando a pessoa se movimentava, ele registrava as variações de volume do sistema venoso. Percebemos que havia uma diminuição no retorno venoso quando as mulheres usavam saltos altos", explica o pesquisador.

O salto alto prejudica uma parte fundamental do corpo para o retorno venoso: a panturrilha. Ela é chamada de coração periférico porque, por meio de suas contrações durante os movimentos, consegue vencer a força da gravidade e bombear o sangue para o coração. "O uso do salto impede que o tornozelo trabalhe em seu ângulo ideal. Isso limita a articulação e leva a um encurtamento do curso de trabalho da panturrilha. Ela acaba bombeando mal o sangue, que sobra na perna. É o que denominamos volume residual venoso", detalha Tedeschi Filho.

Resultados

A pesquisa revelou que o volume residual aumenta, quando o salto alto é usado. O índice considerado normal é de 35%, registrado em mulheres descalças. Com a plataforma, a quantidade chegou a 59% e, com o agulha, em 56%. Já com o salto comum, de 3,5 centímetros, as voluntárias registraram 49% de resíduo. "A ciência tem um princípio básico: responde às perguntas do nosso dia a dia. Quando falamos que o tabaco e o sal fazem mal para a saúde, temos uma retaguarda científica para confirmar essa informação. Mas não tínhamos o mesmo embasamento para comprovar os malefícios do salto alto. Agora, sabemos ele que compromete a circulação", diz Tedeschi Filho.

A baixa no retorno venoso pode ser uma das causas de doenças venosas. "É importante deixar claro que a pesquisa não diagnosticou que a causa das varizes é o salto alto. Há vários fatores, como a obesidade, o uso de anticoncepcionais, a herança genética, que contribuem para o surgimento dessa doença. Considerando esses fatores, mulheres que usam salto têm maior propensão a desenvolver varizes", explica o pesquisador.

Complementando a pesquisa, Tedeschi Filho elaborou um questionário, que foi respondido por 50 mulheres, usuárias de salto alto, também com idades entre 20 e 35 anos. "Os resultados têm ligação direta com o exame de plestimografia a ar. As próprias mulheres reconhecem que sentem dor quando usam o salto alto por longos períodos."

ALERTA Apesar dos indícios do estudo, o pesquisador diz que o objetivo não é boicotar o salto alto, mas orientar as mulheres a usá-lo corretamente. "O salto não é um calçado para usar no dia a dia, mas apenas em festas e eventos especiais. Além disso, a mulher deve fazer exercício físico, manter uma boa dieta e usar sapatos confortáveis", explica Tedeschi Filho. O presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, em Minas, Bruno Naves, se entusiasmou com a pesquisa do colega. "Não tínhamos ainda um estudo que comprovasse os malefícios. As mulheres devem ficar atentas, porque tratar a variz não é só uma questão de beleza. É um problema de saúde que pode se agravar e causar sérias complicações no sistema venoso", diz.

Já o professor da Faculdade de Medicina da UFMG e cirurgião vascular há 50 anos Ernesto Lentz, defende que um salto baixo faz até bem para a circulação. "Primeiramente, ficaria extremamente chateado se as mulheres deixassem de usar saltos, mas é lógico que eles só devem ser usados em poucas ocasiões. Vale dizer também que um salto baixinho, de cerca de 2 centímetros, faz até bem, porque facilita o trabalho de uma área da sola do pé que se assemelha a uma esponja (próxima ao calcanhar). O saltinho respeita a curvatura do pé e pressiona a esponja, impulsionando o sangue. A minha recomendação é que mulheres e homens façam exercício físico diariamente. É o que faz bem para a circulação", comenta.

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