Mulher não larga marido agressor por que depende dele

Simone Regina da Costa



A Mulher que sofre agressão do esposo não o deixa, Pois ela
depende dele.



"Quem nunca ‘saiu na mão’ com a mulher?" A pergunta feita a um repórter de TV por Bruno, ex-goleiro do Flamengo e principal suspeito de mandar matar a ex-amante e suposta mãe de seu filho, Eliza Samudio, não causa estranheza para um quarto das brasileiras - que são agredidas por seus companheiros. Vinte e quatro por cento delas não deixam o marido porque não têm como se sustentar.

A conclusão é de um estudo da organização não governamental (ONG) Centro pelo Direito à Moradia contra Despejos (Cohre), intitulado "Um Lugar no Mundo", e divulgado ontem. A ONG tem sede em Genebra, na Suíça. O estudo cita ainda que, a cada 15 segundos, de acordo com o Instituto Patrícia Galvão, uma mulher é agredida no Brasil. E que 70% das vítimas de violência no país foram agredidas dentro de casa - com lesões leves em 40% dos casos. Das mulheres assassinadas no país, 70% sofreram agressões domésticas.

O estudo mostra que, na América Latina, os índices de violência doméstica são elevados. A pesquisa informa que, na região, de 30% a 60% das mulheres sofreram agressões. O relatório analisa a questão da violência contra a mulher no Brasil, na Argentina e na Colômbia. Segundo o documento, "a dependência econômica aparece como a primeira causa mencionada pelas mulheres dos três países como o principal obstáculo para romper uma relação violenta".

Sem atividade. A maior parte das vítimas não exerce atividades profissionais fora de casa. No Brasil, 27% das entrevistadas disseram que se dedicam ao lar. Na Argentina e na Colômbia, 25% das mulheres se declararam como donas de casa. Algumas afirmaram que não têm outras atividades profissionais por desejo dos companheiros. A ONG informa que esses problemas afetam, principalmente, as brasileiras pobres que vivem em comunidades carentes.

"Essa mulher que não tem qualificação nenhuma está sujeita a viver nessa situação, tanto pelos filhos menores como pela dificuldade que tem para se inserir no mercado", explica a advogada Eliana Piola, coordenadora estadual de Políticas para Mulheres em Minas Gerais. Uma das formas de combate à violência dentro de casa, diz Eliana Piola, é qualificar essas mulheres para que tenham um trabalho e uma renda.

O problema também afeta a camada menos vulnerável financeiramente, alerta Eliana Piola. "Nesses casos, a mulher se submete à violência doméstica para manter o status social, para não revelar essa violência", explica.

"Muita gente ainda acha que, como se diz popularmente, em briga de marido e mulher não se `mete a colher´", complementa Leyla Regina Soares, coordenadora do Fórum Maria da Penha. "Muitas vítimas não conhecem a essência dos centros de referência (de atendimento). E enfrentam dificuldades com a família, que não vê esse agressor como um bandido comum".

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