Gestação de alto risco: Fique por dentro do assunto

Jordana Cunha dos Santos




Tudo que você queria saber sobre a Gestação de alto risco.



Uma gravidez de alto risco é uma gravidez na qual o risco de doença ou de morte antes ou após o parto é maior que o habitual, tanto para a mãe quanto para o concepto. Para identificar uma gravidez de alto risco, o médico avalia a gestante para determinar se ela apresenta condições ou características que a tornam (ou o seu feto) mais propensa a adoecer ou a morrer durante a gestação (fatores de risco). Os fatores de risco podem ser classificados de acordo com o grau de risco. A identificação de uma gravidez de alto risco assegura que a gestante que mais precisa de cuidados médicos realmente os receba.

A mulher com uma gravidez de alto risco pode ser encaminhada a um centro de atendimento perinatal. O termo perinatal refere-se a eventos que ocorrem imediatamente antes, durante ou após o parto. Geralmente, esses centros estão ligados a um serviço obstétrico e a uma unidade de terapia intensiva neonatal, para prover o mais alto nível de cuidados para a gestante e seu filho.

Freqüentemente, o médico encaminha sua paciente grávida a um centro de atendimento perinatal antes do parto porque a atenção precoce reduz bastante a probabilidade do concepto adoecer ou morrer. A gestante também é encaminhada a um centro de atendimento perinatal durante o trabalho de parto quando ocorrem problemas inesperados.

A razão mais comum para o encaminhamento a um desses centros é o risco de parto prematuro (antes da 37ª semana), o qual ocorre freqüentemente quando as membranas cheias de líquido que contêm o feto rompem antes dele estar pronto para nascer (ruptura prematura das membranas). O tratamento em um centro de atendimento perinatal pode reduzir a probabilidade do concepto nascer prematuramente.

Nos Estados Unidos, uma mulher grávida morre (mortalidade materna) em 6 de cada 100.000 nascimentos. A principal causa de morte são os acidentes automobilísticos ou outros traumatismos. A segunda causa principal está relacionada a vários problemas associados à gestação e ao parto: embolia pulmonar (coágulos sangüíneos que se desprendem e vão aos pulmões), complicações da anestesia, hemorragia, infecção e complicações da hipertensão arterial.

Nos Estados Unidos, o concepto morre antes, durante ou após o nascimento (mortalidade perinatal) em 16 de cada 1.000 partos. Pouco mais da metade dessas mortes é representada por natimortos. O restante das mortes é constituída por lactentes com até 28 dias de vida. A principal causa são os defeitos congênitos, seguidos pela prematuridade. Alguns fatores de risco estão presentes antes da mulher engravidar. Outros desenvolvem-se durante a gravidez.

Fatores de Risco antes da Gravidez

Antes de engravidar, uma mulher pode apresentar características ou condições que aumentam o risco durante a gestação. Além disso, quando uma mulher teve algum problema em uma gestação, o risco dela vir a apresentá-lo novamente nas gestações subseqüentes aumenta.

As caracteristicas da Mãe

A idade da mulher afeta o risco da gravidez. As meninas com 15 anos ou menos apresentam maior risco de pré-eclâmpsia (uma doença na qual a mulher apresenta hipertensão arterial, presença de proteínas na urina e retenção líquida durante a gravidez) e de eclâmpsia (crises convulsivas decorrentes da pré-eclâmpsia). Elas também apresentam uma maior probabilidade de dar à luz a um concepto com baixo peso ou subnutrido.

As mulheres com 35 anos ou mais apresentam maior probabilidade de desenvolver hipertensão arterial, diabetes ou fibromas (tumores não cancerosos) no útero e de apresentar problemas durante o trabalho de parto. O risco de gerar um filho com uma anomalia cromossômica (p.ex., síndrome de Down) aumenta acentuadamente após os 35 anos. Quando uma gestante com mais idade demonstra preocupação sobre a possibilidade de anomalias, uma biópsia do vilo coriônico ou uma amniocentese pode ser realizada para se realizar a análise cromossômica do feto.

Uma mulher que pesa menos de 45 quilos sem estar grávida apresenta uma maior probabilidade de gerar um concepto menor que o esperado em relação ao número de semanas de gestação (pequeno para a idade gestacional). Se o seu ganho de peso for inferior a 7 quilos durante a gravidez, o risco dela ter um concepto pequeno para a idade gestacional aumenta aproximadamente 30%.

Por outro lado, a mulher obesa apresenta um maior risco de gerar um concepto muito grande. A obesidade também aumenta o risco de diabetes e de hipertensão arterial durante a gravidez. Uma mulher com uma altura inferior a 1,60 metro apresenta uma maior probabilidade de ter uma pelve pequena. O seu risco de trabalho prematuro e de dar à luz a um concepto anormalmente pequeno por retardo de crescimento intrauterino também é maior que o usual.

Bebês pequenos

Um recém-nascido prematuro é aquele que nasce antes de 37ª semana de gravidez.

Um recém-nascido de baixo peso ao nascer (abaixo do peso) é qualquer recém-nascido que pesa 2,5 quilos ou menos ao nascer.

Um recém-nascido pequeno para a idade gestacional é aquele incomumente pequeno para o número de semanas de gestação. Este termo refere-se ao peso e não ao comprimento do recém-nascido.

Um recém-nascido com retardo de crescimento é aquele cujo crescimento intra-uterino foi comprometido. Esse termo refere-se ao peso e ao comprimento do recém-nascido. Um recém-nascido pode apresentar retardo de crescimento e/ou ser pequeno para a idade gestacional.

Os defeitos estruturais

Os defeitos estruturais nos órgãos reprodutivos da mulher (p.ex., útero bicorno ou colo de útero incompetente [colo de útero fraco que não consegue suportar o feto em desenvolvimento]) aumentam o risco de aborto espontâneo. Pode ser necessária a realização de uma cirurgia diagnóstica, de uma ultra-sonografia ou de radiografias para se detectar esses defeitos.

Quando uma mulher sofre abortos espontâneos repetidos, os exames devem ser realizados antes que ela engravide novamente. Os fibromas (tumores não cancerosos) do útero, mais comuns em mulheres mais velhas, podem aumentar o risco de trabalho de parto prematuro, de problemas durante o trabalho de parto, de apresentação anormal do feto, de localização anormal da placenta (placenta prévia) e de abortos espontâneos repetidos.

Problemas Médicos

Em uma mulher grávida, certas condições médicas podem colocar em risco tanto ela como o feto. As doenças mais importantes são a hipertensão arterial crônica, as doenças renais, o diabetes, as doenças cardíacas graves, a doença da célula falciforme, as doenças da tireóide, o lúpus eritematoso sistêmico (lúpus) e os distúrbios da coagulação sangüínea.

Exposição a Infecções, Drogas

As drogas que sabidamente produzem defeitos congênitos quando utilizadas durante a gravidez incluem o álcool, fenitoína, drogas que neutralizam a ação do ácido fólico (p.ex., triantereno ou trimetoprim), lítio, estreptomicina, tetraciclina, talidomida e warfarina. As infecções que podem causar defeitos congênitos incluem o herpes simples, a hepatite viral, a gripe, a parotidite (caxumba), a rubéola, a varicela (catapora), a sífilis, a listeriose, a toxoplasmose e as infecções causadas pelo coxsackievírus ou pelo citomegalovírus.

No início da gestação, o médico pergunta à gestante se ela fez uso de alguma dessas drogas ou se ela teve alguma dessas infecções após haver engravidado. É particularmente preocupante como o tabagismo, o consumo de álcool e o uso abusivo de drogas durante a gestação afetam a saúde e o desenvolvimento do feto.

Nos Estados Unidos, o tabagismo é o vício mais comum entre as mulheres grávidas. Apesar da informação crescente sobre os perigos para a saúde acarretados pelo tabagismo, a porcentagem de mulheres adultas que fumam ou que vivem com alguém que fuma reduziu apenas discretamente em 20 anos e a porcentagem de mulheres tabagistas inveteradas vem aumentando.

A porcentagem de meninas adolescentes tabagistas aumentou substancialmente e é superior à de adolescentes do sexo masculino que fumam. Embora o tabagismo cause malefícios tanto para a mãe como para o feto, apenas aproximadamente 20% das mulheres tabagistas deixam de fumar durante a gravidez. O efeito mais freqüente do tabagismo sobre o concepto é o baixo peso ao nascimento. Quanto mais a mulher fuma durante a gravidez, menor deverá ser o peso do concepto.

O efeito parece ser maior entre as tabagistas de longa data, as quais apresentam uma maior probabilidade de gerar conceptos menores e de baixo peso. As mulheres grávidas tabagistas também têm uma maior probabilidade de apresentar complicações placentárias, ruptura prematura das membranas, trabalho de parto prematura e infecções uterinas. A mulher grávida não tabagista deve evitar a exposição à fumaça do cigarro porque ela pode afetar o feto de maneira similar.

Os defeitos congênitos do coração, do cérebro e da face são mais comuns em filhos de tabagistas que em filhos de não tabagistas. O consumo de cigarros por parte da mãe pode aumentar o risco da síndrome da morte súbita do lactente. Além disso, os filhos de mães tabagistas apresentam deficiências discretas mas mensuráveis de crescimento físico, de desenvolvimento intelectual e comportamental.

Acredita-se que esses efeitos sejam causados pelo monóxido de carbono (o qual pode reduzir o aporte de oxigênio aos tecidos do corpo) e pela nicotina (a qual estimula a liberação de hormônios que promovem a constrição dos vasos que levam o sangue à placenta e ao útero). O consumo de álcool durante a gestação é a principal causa conhecida de defeitos congênitos.

A síndrome do alcoolismo fetal, uma das principais conseqüências do consumo de álcool durante a gravidez, é diagnosticada em 2,2 de cada 1.000 nascimentos vivos. Este distúrbio inclui o retardo do crescimento antes ou após o nascimento; defeitos faciais; microcefalia (cabeça pequena), provavelmente causada por um crescimento subnormal do cérebro; e desenvolvimento comportamental anormal.

O retardo mental é mais comumente resultante da síndrome do alcoolismo fetal que de qualquer outra causa conhecida. Além disso, o álcool pode causar problemas que vão desde o aborto espontâneo até alterações comportamentais graves no recém-nascido ou na criança em desenvolvimento (p.ex. comportamento anti-social e deficiência da atenção).

Esses problemas podem ocorrer mesmo quando o recém-nascido não apresenta defeitos físicos congênitos evidentes. O risco de aborto espontâneo quase dobra quando a gestante consome álcool durante a gravidez, especialmente quando ela bebe exageradamente. Freqüentemente, o peso ao nascimento dos recém-nascidos de mães que bebem durante a gravidez é inferior ao normal.

Em média, o peso ao nascimento é de aproximadamente 2 quilos para os conceptos expostos ao álcool, comparados aos 3,5 quilos do restante dos recém-nascidos. A adição a drogas e o uso abusivo de substâncias tóxicas são observados cada vez mais em mulheres grávidas. Mais de 5 milhões de pessoas nos Estados Unidos, muitas das quais são mulheres em idade fértil, fazem uso regular da marijuana (maconha) ou da cocaína.

Um exame laboratorial sensível e barato denominado cromatografia pode ser utilizado para examinar a presença de heroína, morfina, anfetaminas, barbitúricos, codeína, cocaína, marijuana (maconha), metadona ou fenotiazinas na urina da gestante.

As mulheres que fazem uso de drogas injetáveis apresentam maior risco de anemia, bacteremia (infecção do sangue) ou endocardite (infecção das válvulas cardíacas), abcessos cutâneos, hepatite, flebite, pneumonia, tétano e doenças sexualmente transmissíveis, inclusive a AIDS.

Aproximadamente 75% dos recém- nascidos com AIDS são filhos de mães que usavam drogas injetáveis ou eram prostitutas. Essas crianças apresentam um maior risco de apresentar outras doenças sexualmente transmissíveis, hepatite e infecções.

Além disso, é maior a probabilidade de retardo do crescimento intra-uterino e de parto prematuro. Aproximadamente 14% das mulheres grávidas consomem marijuana (maconha) com freqüência variada. O seu principal ingrediente, o tetrahidrocanabinol (THC), pode atravessar a placenta e atingir o feto.

Embora não existam evidências de que a marijuana causa defeitos congênitos ou retardo do crescimento intrauterino, alguns estudos sugerem que o consumo intenso dessa droga está relacionado a alterações comportamentais em recém-nascidos. A adição à cocaína durante a gestação causa problemas graves tanto para a mãe como para o feto e muitas mulheres que fazem uso da cocaína também consomem outras drogas, piorando o problema.

A cocaína estimula o sistema nervoso central; tem ação anestésica local; e produz a constrição dos vasos sangüíneos, o que pode reduzir o fluxo sangüíneo de modo que o feto algumas vezes não recebe um aporte suficiente de oxigênio. A redução do suprimento sangüíneo e do aporte de oxigênio ao feto pode afetar o crescimento de vários órgãos e, comumente, acarreta defeitos do esqueleto e porções do intestino anormalmente estreitas.

Os distúrbios do sistema nervoso e comportamentais em recém-nascidos de mães que fazem uso de cocaína incluem a hiperatividade, o tremor incontrolável e distúrbios do aprendizado importantes, os quais podem persistir até os 5 anos ou mais.

Quando uma mulher grávida apresenta hipertensão arterial grave abrupta ou sangramento devido ao descolamento prematuro da placenta (abruptio placentae) ou quando ela dá à luz um natimorto sem causa aparente, geralmente é realizado um exame de urina para pesquisar a presença de cocaína.

Dentre as mulheres que fazem uso de cocaína durante toda a gestação, 19% delas apresenta descolamento prematuro da placenta. Quando uma gestante deixa de usar a cocaína após os três primeiros meses de gestação, os riscos de parto prematuro e de descolamento prematuro da placenta permanecem altos, mas o crescimento do feto provavelmente será normal.

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