Transtorno Bibolar

Com Paula Nogueira



Diferenças sexuais, descritas em vários transtornos psiquiátricos, também parecem estar presentes no transtorno afetivo bipolar (TAB). A prevalência do TAB tipo I se distribui igualmente entre mulheres e homens. Mulheres parecem estar sujeitas a um risco maior de ciclagem rápida e mania mista, condições que fariam do TAB um transtorno com curso mais prejudicial no sexo feminino. Uma diátese depressiva mais marcante, uso excessivo de antidepressivos e diferenças hormonais surgem como hipóteses para explicar essas diferenças fenomenológicas, apesar das quais, mulheres e homens parecem responder igualmente ao tratamento medicamentoso. A indicação de anticonvulsivantes como primeira escolha em mulheres é controversa, a não ser para o tratamento da mania mista e, talvez, da ciclagem rápida. O tratamento do TAB na gravidez deve levar em conta tanto os riscos de exposição aos medicamentos quanto à doença materna. A profilaxia do TAB no puerpério está fortemente indicada em decorrência do grande risco de recorrência da doença nesse período. Embora, de modo geral, as medicações psicotrópicas estejam contra-indicadas durante a amamentação, entre os estabilizadores do humor, a carbamazepina e o valproato são mais seguros do que o lítio. Mais estudos são necessários para a confirmação das diferenças de curso do TAB entre mulheres e homens e a investigação de possíveis diferenças na efetividade dos tratamentos.

Nas últimas décadas, o estudo das diferenças fisiológicas e patológicas entre mulheres e homens tem sido reconhecido como fundamental para a compreensão geral dos diversos tipos de adoecimento, inclusive o mental, e para a orientação de seu tratamento. Além do dimorfismo sexual, é preciso levar em conta o fato de que mulheres e homens têm, culturalmente, experiências diferentes de vida e apresentam, possivelmente, respostas diferentes a situações estressantes (Leibenluft, 1996b). Longe de alicerçar preconceitos relativos a papéis sociais, a constatação de que o psiquismo – sadio e patológico – apresenta características específicas para mulheres e homens é imprescindível para o desenvolvimento de opções terapêuticas com mais chances de sucesso.

Entre os transtornos psiquiátricos, existe menor quantidade de estudos sobre mulheres com transtorno afetivo bipolar (TAB) do que com transtorno depressivo unipolar ou esquizofrenia (Leibenluft, 1996a; Hendrick et al., 2000). Embora mulheres e homens apresentem prevalências semelhantes para o transtorno bipolar do tipo I, parecem existir diferenças entre os sexos quanto ao curso da doença. Mulheres têm risco maior de desenvolver ciclagem rápida caracterizada por quatro ou mais episódios afetivos em um ano (Leibenluft, 1996a) e, possivelmente, mania mista, além de maior número de episódios depressivos e episódios depressivos mais longos. Também parece haver risco maior de início tardio da doença, entre 45 e 49 anos, para as mulheres (Leibenluft, 1996a; Arnold, 2003).

Essa propensão maior para apresentações do transtorno bipolar com sintomatologia depressiva poderia refletir uma característica específica da diátese depressiva em mulheres (Leibenluft, 1996a; Arnold, 2003). Essa diátese, no transtorno depressivo unipolar e no transtorno bipolar tipo II, contribuiria para o fato de que, nessas duas doenças, as mulheres representem aproximadamente o dobro dos casos dos homens (Dunner, 1998).

A presença mais freqüente de sintomas/episódios depressivos seria responsável, pelo menos em parte, pelo uso maior de antidepressivos por mulheres (Leibenluft, 1996a), muitas vezes sem a utilização simultânea de estabilizador do humor, o que poderia contribuir para um risco maior de episódios maníacos induzidos por antidepressivos e para a ciclagem rápida (Arnold, 2003). Mulheres seguem com o diagnóstico errado de depressão unipolar por aproximadamente dois anos mais que os homens e iniciam tratamento de manutenção com lítio 5,5 anos mais tarde (Arnold, 2003). Quanto a um possível número maior de episódios depressivos – em comparação com um maior número de episódios maníacos em homens, os estudos ainda são contraditórios (Leibenluft, 1996a; Burt e Rasgon, 2004).

Além dos vieses relativos ao tamanho pequeno das amostras e ao caráter retrospectivo dos estudos, a maioria das investigações sobre diferenças sexuais no TAB avalia populações de centros universitários terciários ou de clínicas especializadas em transtornos do humor. Assim, para obter resultados mais representativos da população geral acerca da fenomenologia do TAB em mulheres e homens, um estudo recente descreveu as características de todos os pacientes admitidos pela primeira vez para internação ou tratamento ambulatorial com o diagnóstico de episódio maníaco/transtorno bipolar, na Dinamarca, de 1994 a 2002 (Kessing, 2004). O autor concluiu que, a não ser por uma freqüência maior de comorbidade com abuso de substâncias entre os homens atendidos ambulatorialmente e um número maior de mulheres internadas com episódios mistos, houve pouca diferença nas apresentações do TAB entre os sexos.

1 comentários :

Click here for comentários
Anônimo
admin
7 de dezembro de 2009 às 01:39 ×

Post muito interessante, parabéns. Eu particularmente acredito no que diz a pesquisas: Mulheres parecem ciclar mais... E sem dúvida nenhuma é muito importante tratar homens e mulheres de forma diferentes. Principalmente quando notamos maior incidência de depressão em mulheres, isso pode contribuir para episódios maniacos.

Congrats bro Anônimo you got PERTAMAX...! hehehehe...
Reply
avatar

Qual sua opinião, Dúvida? Nossa equipe quer ver você comentando e participando. Conversion Conversion Emoticon Emoticon