Vinganças Femininas

Daniela Silva

"Na vingança e no amor a mulher é mais bárbara do que o homem". Você concorda com Friedrich Nietzsche? Pelo jeito, mais gente vê sentido no raciocínio do filósofo alemão. Tanto assim que a frase atravessou dois séculos e ainda hoje rende discussões. Vingança, especificamente, foi alvo de um estudo divulgado pela Universidade Ibero-Americana, no México.

A pesquisa, de autoria do psicólogo Oscar Galicia, constatou que, quando o assunto é a reação das pessoas à raiva, os homens tendem a partir mais facilmente para a reação física, enquanto as mulheres costumam expressar a mágoa de forma mais controlada — e a vingança muitas vezes é até premeditada.

Caso pensado

Foi assim, de caso pensado, que Vânia*, uma arquiteta de pouco mais de 40 anos, se vingou do namorado e da melhor amiga, ao mesmo tempo. Vânia namorava o também arquiteto Paulo. Uma relação de cinco anos. E havia 10 anos que mantinha uma amizade com Scheila. O namorado e a melhor amiga não se davam bem. Pareciam somente se tolerar, já que poucas vezes conversavam.

''Eu queria que eles fossem amigos, mas sempre senti uma certa resistência de ambas as partes'', relembra.

Paulo dizia que Scheila era esnobe e infantil. Scheila o definia com adjetivos como convencido e arrogante. E Vânia dividia-se entre os dois. Até que o casal decidiu morar junto, na casa dela.

Pouco tempo depois, Vânia viajou a trabalho. Como não era muito longe, decidiu ir de carro, acompanhada de uma colega do escritório. Já na estrada, se deu conta de que a pasta com todo o material do cliente havia ficado na mesa da sala, em casa. Voltou mais de 200 quilômetros para buscá-la.

Estacionou o carro na calçada, colocou a chave na porta de casa e... ouviu a risada familiar da "melhor amiga". Sem fazer barulho, pé ante pé, chegou até a porta do seu quarto. Lá dentro, os dois se divertiam, nus, na cama. E, para receber a amante, ele tinha colocado na cama os lençóis de seda vermelhos que ela tinha comprado para ocasiões especiais.

Ela pensou em gritar, armar um barraco, matar os dois. Mas era inteligente demais pra isso e já começou ali mesmo a armar uma vingança. Sacou o celular e fez algumas fotos, tomando cuidado para não ser vista. Depois, saiu de casa sem fazer barulho. Viajou, trabalhou e voltou. Sempre maquinando um jeito de se vingar.

Decidiu pelo mais simples: reproduziu as fotos dos dois amantes na cama e mandou para todo o círculo de amigos de ambos, pela internet, com a frase: "Cuidado, o próximo a ser traído poderá ser você. Mantenha distância deles". E, claro, as fotos se espalharam na rede.

Depois do episódio da internet, parece que a traidora resolveu mudar de cidade.

Eles, reativos. Elas, proativas

O estudo do mexicano Oscar Galicia trata da reação de homens e mulheres à raiva. Os pesquisadores do laboratório de neurociências do Departamento de Psicologia da Universidade Ibero-Americana concluíram que o gênero masculino tende a ser mais impulsivo e o feminino mais "vingativo a longo prazo" após avaliar 42 mulheres e número igual de homens, que foram expostos a 120 imagens cujas características principais eram: agradável, desagradável, estimulante à ação e propensa à inatividade (ou imagens deprimentes).

Enquanto viam as imagens, as pessoas eram monitoradas via eletroencefalograma e pela medida de respostas da atividade neurovegetativa (temperatura corporal, frequência cardíaca e tensão muscular). Ao reagir de forma emocionalmente ativa a algo desagradável, o indivíduo era classificado como agressor reativo.

Quando, ao contrário, a reação emocional era mais fraca e a pessoa pensava em algo que o libertaria da raiva posteriormente, era classificado como proativo.

A conclusão a que o autor do estudo chegou é que 70% dos homens tendem à impulsividade, enquanto apenas 10% das mulheres têm a mesma propensão.

''A conduta agressiva é maior nos machos de todas as espécies. Na espécie humana não é diferente, há diferenças marcantes na expressão da agressão, de acordo com o gênero'', conclui o psicólogo.

Outras vinganças

Eleger o ponto fraco e atacar. Essa parece uma característica bem comum nos planos de vingança femininos. Com uma conversa aqui e outra acolá, a reportagem de Donna DC descobriu algumas histórias. Umas engraçadas, outras criativas, mas todas vingativas.

Pelo conteúdo que você vai ler abaixo, é possível imaginar que a máxima "Vingança é um prato que se come frio" tenha saído da cabeça de uma mulher.

Uma sexta-feira dia 13 daquelas

A história de vingança que você vai ler agora ainda nem se concretizou, mas está encaminhadíssima. Fernanda*, 28, descobriu que o namorado (quase noivo) estava de passagem comprada para Paris. Uma viagem romântica, mas não com ela.

Não foi difícil conseguir acesso ao e-mail do rapaz. Depois, por meio da correspondência eletrônica, Fernanda fez "o favor" de cancelar as passagens e reserva de hotel. E, claro, apagou as mensagens de confirmação de cancelamento. Se tudo der certo, o moço só vai descobrir "o equívoco" quando estiver de mala e cuia no aeroporto, na sexta-feira 13 de novembro.

Era uma vez uma linda BMW

Cláudia* começou a desconfiar que o namorado andava meio distante. Ciumenta e apaixonada, a publicitária, então com 26 anos (o fato se deu em 2003), passou a seguir o rapaz. E descobriu que ele andava frequentando um endereço. Até que o viu entrar no carro dele com uma moça, abraçadinhos, numa noite qualquer. O flagrante poderia ter sido o ponto final do namoro, mas ela achou que o moço não poderia sair ileso da relação, depois de tê-la magoado tanto.

A publicitária acompanhou a rotina do "novo casal", municiou-se de um prego e, quando o carro do ex — uma BMW recém-comprada que ele adorava — estava estacionando na frente do prédio da "outra", ela calmamente foi até o veículo e riscou-o o quanto pode — e com toda força que dispunha. O que ela sentiu? Um alívio!

Amiga da onça

A vingança de Flávia* foi tão aguardada e planejada que incluiu fazer amizade com outra menina até ganhar confiança digna de melhor amiga.

O namorado da administradora de 32 anos terminou o namoro alegando não ter tempo para a relação. Uma semana depois, soube que o ex estava com uma moça que trabalhava na mesma empresa que Flávia. Ela não pensou duas vezes. Fez amizade com a menina. O alvo da vingança, no entanto, não era ela, e sim ele. Para a "amiga", Flávia confidenciava a desilusão amorosa que havia sofrido. Contava as traições, as mentiras, os traços de egoísmo.

Até que o dia da desforra chegou. A administradora saía do trabalho com a amiga e topou com o ex, atual da outra.

''Na hora, disse pra ela que aquele era o Anderson, o ex que tanto me fez sofrer. O namoro deles terminou logo depois. Ele me ligou chorando. Estava apaixonado pela outra e pediu que eu desmentisse a história. Mas eu não havia inventado nada. Era tudo verdade'', ratifica.

Anderson ficou sem as duas. Elas, em compensação, seguem amigas.

Playstation a preço de banana

Depois de dois anos aturando a cervejada das sextas, o futebol do sábado e o rugby de domingo, além de muitas, mas muitas sessões em frente ao playstation, Sabrina* se revoltou.

''Temos uma filha juntos e ele nunca foi maduro o suficiente para dividir as tarefas. Era muito egoísta. Saía e me deixava em casa'', conta a jornalista de 28 anos.

''Fiquei um tempo pensando no que fazer. Até que uma amiga comentou que queria comprar um playstation para o irmão. '', Disse.

Foi a deixa. O jogo, comprado pelo marido por mais de R$1 mil, foi vendido por R$ 200 para a amiga. Os uniformes do futebol novinhos foram para o lixo.

''O lixeiro que passava pela frente de casa ficou bem feliz'', diverte-se Sabrina, ao relembrar a história, que terminou em separação.

Mas o que a jornalista queria mesmo era fazer o ex sentir a mágoa que ela sentia.

Vingança a 500 quilômetros de distância

Na assessoria de um festival de cinema, Cristina* conheceu um jornalista carioca que estava cobrindo o evento. Amor à primeira-vista e consolidado em apenas uma semana (o tempo que durou o festival).

A também jornalista de 27 anos já estava pensando como seria a ponte "Rio-Floripa" que estabeleciam dali por diante. Até que, no último dia em terras catarinenses, o moço deixou o celular sobre a cabeceira da cama e foi para o banho. Cristina não resistiu. Deu uma espiada nas mensagens e, de cara, encontrou o texto "Amor, consegui comprar nossa tevê". Ou seja, ele tinha namorada, embora estivesse fazendo planos com Cristina.

O carioca foi embora, mas mantinha contato com Cristina. Quando, em uma das conversas, disse que iria para Gramado, cobrir mais um festival de cinema, a mente feminina teve a súbita ideia de se vingar.

''Resolvi dizer que também estaria no evento. Ele ficou empolgado. Certamente achando que teria um fim de semana de sexo e curtição. '', Comenta.

Numa das noites, ele ligou dizendo "Eu te quero. Vou para o hotel e você me encontra lá". Cristina deu corda. Disse que em meia hora estaria no local.

''Ele passou os dois dias seguintes me ligando, me mandando mensagens. Eu, a 500 quilômetros de distância, pensando: senta e espera eu chegar! Há há! '', Se Diverte.

A última mensagem do garoto carioca foi: "tão perto e tão longe. Por que você fez isso comigo?". Neste momento, Cristina se sentiu vingada.

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