Mulher Grávida com Diabete

Com Paula Nogueira



O primeiro conceito fundamental e que deve nortear às portadoras do diabetes e suas famílias é de que poderão engravidar e atravessar uma gestação de forma tranqüila e que terão a possibilidade de levar para casa um recém-nascido saudável. Ora, isto não é o que se escuta. Conhecemos casos que não foram assim tão felizes.

É verdade! Existem situações nas quais as coisas não correram bem. Para que possamos vivenciar a alegria do final feliz, torna-se importante entendermos o que ocorre e o que devemos fazer para que tudo dê certo.

Inicialmente, devemos entender que a gravidez é um fato que marca a vida da mulher e de sua família, onde se determina a opção de se agregar uma nova pessoa, com todas as responsabilidades que disto irá advir.

Isto por si só, justifica uma programação, um planejamento. Implica em estar com a estrutura familiar definida e apta a receber um novo membro; em estar física e psiquicamente preparada para enfrentar os 9 meses de gestação e ter a predisposição de instalar a maternidade, a função de mãe, para o resto da vida.

Se para uma mulher sem nenhum problema de saúde, isto tudo é importante, para aquelas que apresentam diabetes, este planejamento é primordial, pois necessitamos avaliar previamente as condições de saúde, se permitem uma gestação saudável, sem riscos para a mãe e para o bebê.

A primeira condição é avaliarmos o grau de compensação do diabetes e se existem repercussões sistêmicas da doença.

Para liberarmos uma mulher com diabetes para a gravidez é necessário que o perfil glicêmico, isto é, as glicemias no decorrer do dia, estejam compensadas em valores normais, com a comprovação da hemoglobina glicosilada normal.

Isto aumentará a garantia de que a gestação se iniciará de forma ideal, com mínimos riscos de malformações fetais, fato este, que poderia ocorrer numa gestação que se inicia em ambiente muito descompensado e que assim permanecesse nos primeiros meses.

Compensar as glicemias, hoje, se tornou muito factível, com uma monitorização fácil e com insulinas diversificadas, de forma que a mulher pode perfeitamente se programar e liberar-se para a gravidez quando estiver perfeitamente compensada.

Algumas mulheres portadores de diabetes, que não faziam uso de insulina, que se compensavam com dieta e/ ou hipoglicemiantes orais, deverão se adaptar com dieta e insulina pré-gestação, pois na gravidez deverão evitar o uso dos comprimidos.

Outro item importante antes de se permitir a gravidez é a necessidade de se avaliar as funções sistêmicas, como pressão arterial, função renal, fundo de olho, e tentar mantê-las o mais normal possível.

Desta forma, a mulher com diabetes, engravidando compensada e sem problemas sistêmicos importantes, deverá ter um seguimento pré-natal especializado visando permitir a manutenção deste equilíbrio.

O que ocorre na gravidez em geral é que as necessidades de insulina são crescentes com o avançar da idade gestacional, fato que é naturalmente compensado nas não diabéticas, nas quais o pâncreas produz maior quantidade do hormônio com o desenvolvimento da gestação.

Em algumas mulheres, isto não acontece, e à partir de um determinado momento, a insulina que é produzida pelo pâncreas não é a suficiente para a manutenção da glicemia normal, o que irá determinar hiperglicemias, caracterizando o chamado diabetes gestacional.

Nas mulheres com diabetes antes da gravidez, a insulina administrada necessitará readaptação de suas doses continuamente durante o evoluir do tempo de gestação, tentando simular o que ocorreria fisiologicamente numa mulher sem a doença.

De forma prática, o que acontece é que a glicemia da gestante deve permanecer em valores normais, isto é, abaixo de 90 no jejum e no decorrer do dia, abaixo de 120mg%.

Quando numa mulher que não era portadora de diabetes, e que, como já dissemos, não consegue acompanhar a produção de insulina, poderá começar a subir a glicemia, necessitando instituir a dieta e muitas vezes a insulina.

As obesas, as mulheres que tem história familiar de diabetes e as que tiveram filhos com mais de 4000g, são as mais sujeitas a desenvolver o diabetes gestacional, sendo que no pré-natal, o obstetra tem a obrigação de investigar todas as grávidas tentando identificar quem estaria sujeita a estas alterações.

Nas mulheres com diabetes pré-gestacional, o aumento da necessidade de insulina determinado pela gravidez, implica em se monitorizar permanentemente o perfil glicêmico através da "ponta de dedo," no jejum e 2 horas pós refeições, tentando-se manter nos padrões normais ( menor de 90 em jejum e menor de 120 pós prandial), ajustando-se novas doses de insulina a medida que for necessário.

A manutenção do perfil glicêmico dentro do normal é importante, pois quando está elevado, este excesso de glicose pode refletir-se na glicemia do feto, determinando nele, um aumento na produção de insulina, com elevação de sua insulinemia.

Este hormônio elevado no feto irá determinar um aumento nos depósitos de gordura, caracterizando o feto grande para a idade gestacional ou macrossômico (mais de 4kg), que ao nascer poderá ter hipoglicemias importantes no berçário, além de problemas respiratórios (desconforto respiratório), que poderá ser grave podendo levar ao óbito neo-natal.

Outros problemas decorrentes deste descontrole materno poderão acarretar repercussões tanto para o feto como para o recém-nascido.

Devemos entender que a busca do controle metabólico da gestante diabética, implica em variações de glicemias, às vezes está alta, às vezes cai muito, podendo determinar hipoglicemias até acentuadas ( que se controladas de forma correta, não acarretarão riscos para o bebê), porém o importante é tentarmos manter o melhor controle possível.

DIETA

Pequenas oscilações, ou algumas dificuldades no controle não devem desesperar a mulher, pensando que está prejudicando seu filho. O importante é a conscientização de que devem fazer uma dieta equilibrada, exercícios físicos, se possível, procurar conhecer seu perfil glicêmico e buscar o melhor controle.

Desta forma, poderemos levar a gestação até o termo, isto é, até o final, com a certeza de que poderemos ter um feto maduro e que sem repercussões do diabetes materno, e que possa ter alta do berçário em boas condições.

Finalizando, a orientação é a seguinte: A mulher com diabetes deve fazer um planejamento familiar, com método contraceptivo eficaz e compensar as glicemias antes de engravidar. Ser avaliada pelo médico para ver se está apta a liberar a gravidez, tanto do ponto de vista do diabetes, quanto nos demais ( vacinações, etc..).

Fazer uma dieta constante, auto-monitorização, acertos das doses de insulina e um bom pré-natal onde se acompanhe a evolução da grávida, do diabetes e do feto com seguimentos ultra-sonográficos atestando a normalidade do bebê e a avaliação da sua vitalidade.

Outros exames como eco-cardiograma fetal também são úteis atestando a normalidade do coração fetal (que poderia ser um dos focos de malformações). A associação de uma gestante consciente e participativa com diabetólogo e o obstetra que conheçam e se envolvam no controle da gravidez garantirá o seu sucesso, culminando com uma mamãe saudável e feliz com seu bebê no colo sendo amamentado.

Serviço:
Prof. e Dr. Mauro Sancoviski

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