A Competência da Mulher

Patrícia Pontes


O Poder da Mulher nos negócios


O que une algumas das mais bem-sucedidas mulheres de negócios do País não é apenas um gordo saldo bancário. Elas têm trajetórias muito particulares, mas em todas se encontra uma característica comum: bem-nascidas ou não, pouco importa, construíram fortunas por esforço próprio. Trabalham como mouras e se projetam cada vez mais. Kaú Fernandes, uma ex-jogadora de vôlei de classe média, transformou um pequeno estoque de CDs em uma rede de lojas em Miami. Está milionária e hoje se desloca de um compromisso a outro a bordo de jatinho executivo. Muitas, como a metódica Chieko Aoki, que administra o grupo hoteleiro Caesar Park, encontraram a fórmula do sucesso ao imprimir a própria personalidade nos negócios que tocam. Ela, que adora arrumar gavetas nas horas de folga, fez dos hotéis da cadeia também um modelo impecável de organização. Em um universo em que até pouco tempo atrás mulheres eram figuras raras, o talento, em alguns casos, venceu preconceitos. A exemplo de Chieko, Mitiko Ogura, representante no Brasil da marca japonesa Aiwa e dona da Sterilair, conseguiu projetar-se dobrando a cultura milenar dos japoneses. Não é pouca coisa, afinal eles não estão acostumados a tratar de negócios com damas. Cada uma à sua maneira, essas empresárias estão ganhando milhões. Nem todas ostentam. Mirian Abicair, dona do spa Sete Voltas, em São Paulo, mora numa casa rústica de madeira e faz a linha despojada, ou "vovó-grilo", como ela mesma diz. "Executiva para fazer sucesso não precisa andar de celular a tiracolo ou circular em carros importados. Tem de botar a mão na massa."

ESTILO 007

Kaú Fernandes circula por Miami, onde vive desde 1989, a bordo de um BMW igual ao de James Bond no filme 007 contra Goldeneye. Um luxo que no Brasil sai por mais de R$ 100 mil. O carro, um de seus sonhos, foi conquistado em 1994. "Depois de tanto trabalho, achei que poderia me presentear", diz. Kaú transformou-se numa empresária de R$ 10 milhões anuais de faturamento ressuscitando um negócio falido. Ela herdou as sobras - loja e alguns CDs - de uma sociedade desfeita por seu irmão. Sua missão era vender tudo. Mas não fez nada disso. "As pessoas me encomendavam coisas e eu aceitava". Como estava sem dinheiro para comprar os pedidos, Kaú pegava depósitos de seus clientes. Nessa época, trabalhava 18 horas por dia. Logo resolveu se especializar em videodisco e, para investir, viveu no aperto por dois anos.

Hoje, a empresária, paulistana, 29 anos e solteira, tem escritório de atacado e quatro lojas nos Estados Unidos: duas de discos, Kaú Laser, e duas de brinquedos, batizadas de Katimania. Ex-jogadora de vôlei, ainda tem o pique da atleta, mas não trabalha tanto quanto antes. Curte a vida. Kaú mora num imóvel próprio com vista de 180 graus para a praia. Apaixonada por viagens, ela aproveita os encontros de negócios fora dos Estados Unidos para fazer turismo. Ao Brasil, vem pelo menos sete vezes por ano. "Nem sempre a negócios. Às vezes a saudade aperta."

ELA BEBE, OURO?

Apesar da aparência franzina, a pequena Chieko Aoki, com seu 1,50 metro de altura, é uma dama de ferro na condução dos negócios. Presidente mundial da rede hoteleira Caesar Park, aos 46 anos ela está à frente de um grupo que fatura R$ 500 milhões por ano e emprega mais de quatro mil funcionários em 17 países. Mesmo assim, exerce um controle minucioso sobre cada um dos 43 hotéis que administra mundo afora, entre eles o Ritz de Barcelona, na Espanha, e o The Algonquin, em Nova York. Quando chega a um deles, sempre elegante em tailleurs de Valentino ou Chanel, nada escapa ao seu perfeccionismo. Japonesa naturalizada brasileira, tem residências em São Paulo, Nova York e Tóquio. Algumas histórias que ficaram famosas no meio hoteleiro são reveladoras de sua obsessão. Certa vez, numa recepção no Caesar Park de São Paulo, ela repreendeu uma funcionária porque os cinzeiros do hotel não estavam com os logotipos à vista dos convidados. Em outra ocasião, queixou-se de um salsão amarelado que destoava dos outros numa bandeja de canapês. Excentricidade? Talvez. Já foi flagrada bebendo água mineral com partículas de ouro porque faz bem ao organismo e surpreende por alguns hábitos bastante prosaicos para uma milionária, como o de comer pão com mortadela. Começou a carreira como secretária de John Aoki, marido e chairman da corporação Aoki, que atua também na navegação e construção. Eles se encontram algumas vezes por ano em qualquer canto do planeta.

Horror a Números

Vinda de família quatrocentona, ela desistiu de R$ 50 mil mensais para abrir a própria agência
Christina Carvalho Pinto
Full Jazz, publicidade
Faturamento: R$ 30 milhões


Christina Carvalho Pinto acaba de dar uma guinada em sua prestigiada carreira. A ex-poderosa chairwoman do grupo Young & Rubicam no Brasil, que ganhava um salário de R$ 50 mil mensais, agora é dona do próprio negócio: a agência Full Jazz, que iniciou suas operações em agosto e já nasce com 12 contas, entre elas as da montadora francesa Peugeot e do Banco Real. A previsão de faturamento para este primeiro ano é de R$ 30 milhões. Instalada num modesto escritório em São Paulo, a publicitária de sobrenome quatrocentão está mais à vontade do que nunca. Vaidosa, ela não se constrange de pentear os cabelos em plena mesa de trabalho e de pedir um "help" ao diretor de arte antes de ser fotografada. Livre das atribuições financeiras que a atormentavam no passado, ela pretende agora se dedicar com mais ênfase à criação de anúncios e comemora o fim de expressões como "board", "holding" e "chairman" na casa nova. "Se há alguma vice-chairman aqui, é minha secretária", diz.

Aos 42 anos e "corpinho de 17", Christina não é uma executiva padrão. "Meu negócio não é balanço financeiro. Só fui respeitada no papel de líder empresarial porque sempre me dediquei à criação", diz ela, uma redatora que já passou pela Norton, Salles e McCann-Erickson. Três filhos e atualmente solteira, gosta de frequentar as pistas de dança da boate Leopoldo, em São Paulo, para dançar do "rock pesado ao bolero com rosto colado". A quem possa interessar: o bom partido Christina Carvalho Pinto tem par constante nas danças mais românticas, um industrial de nome desconhecido, mas não se diz comprometida.

Duas paixões levaram Elda Bettin Coltro, 48 anos, a se tornar a mulher que comanda hoje o grupo PlayArte, um império do entretenimento, capaz de faturar, pelo menos, R$ 30 milhões por ano: educação e novas tecnologias. Formada em pedagogia, Elda dava aulas numa pré-escola de São Paulo nos anos 80, quando montou com o marido, Otello, a empresa VideoArte do Brasil, para distribuir fitas educativas. Por cerca de cinco anos, a firma trabalhou na corda bamba e era comum o casal transferir recursos de outros negócios - uma revenda de automóveis e uma pequena tecelagem - para dar fôlego ao novo empreendimento. Valeu o esforço. A VideoArte se transformou no grupo PlayArte, hoje com uma distribuidora para cinema e quatro de vídeo, a Trade Wings, braço americano que compra, vende e produz filmes, e o Circuito Sul de cinema com 42 salas em São Paulo e no Sul do País e 500 funcionários.

Envolvida com o mundo do cinema, Elda passou a frequentar, no final da década de 80, todas as feiras internacionais de filmes. Fez disso uma rotina e hoje vai a todos os festivais, entre eles os de Veneza, Londres e Berlim. Apesar de encarar essas viagens como trabalho, sempre dá um jeito de se divertir - tomando uma taça de champanhe à noite num iate em Cannes após uma concorrida sessão do festival com seletos convidados. Conhece aeroporto como ninguém. Elda viaja pelo menos 11 vezes por ano ao Exterior. Quando está no Brasil, dá expediente na empresa das oito da manhã às oito da noite. Festeira, a executiva gosta de sair - é vista com frequência a bordo de seu Cherokee, que ela mesma pilota -, adora receber os amigos para jantar e brincar de artista no seu aparelho de karaokê. "Amaria ter sido cantora de boate", brinca.

A EXÓTICA DO SPA

Os 20 cachorros e 100 pássaros que convivem com Mirian Abicair em sua casa de madeira, mais parecida com uma pousada amazônica, em Itatiba, interior de São Paulo, denunciam seu estilo. Aos 57 anos, essa paulista que cursou apenas o primário tem uma estratégia de vida: amante da natureza, é adepta da simplicidade com eficiência. Foi assim que montou um dos spas mais badalados do País, o Sete Voltas, que este ano deve faturar R$ 2,2 milhões. Mirian só veste roupas leves e largas - por ironia ela está 20 quilos acima de seu peso ideal. Sem maquilagem ou apetrechos como celular ou notebook, Mirian destoa da idéia típica de businesswoman. Tem nove carros a serviço do hotel - quatro nacionais e cinco importados. Para Mirian, tanto faz qual deles vai levá-la a algum lugar. "Quem disse que executiva tem que usar tailleur e andar de BMW? Tem é que botar a mão na massa. Esse tipo que desfila está falido", receita.

No hotel, ela cuida pessoalmente de tudo, principalmente das invenções culinárias. Raramente sai de Itatiba, onde mora com seu sétimo marido. Lazer? "Já viajei muito, já morei em Nova York e em Miami. Hoje em dia tenho alergia a avião." O sucesso de Mirian contou com a ajuda dos amigos. Quando terminou seu sexto casamento, ficou com uma casa velha construída num terreno amplo, em Itatiba. Reformou a casa e começou, em 1987, um spa experimental. "As cobaias" do empreendimento - todos conhecidos de Mirian - emagreceram e fizeram propaganda boca a boca. Meses depois, ela abria oficialmente seu negócio.

ISSO É QUE É SALÁRIO

Dona de um salário de R$ 1 milhão por ano, fora bonificações, Marluce Dias da Silva, aos 45 anos, é provavelmente a executiva mais bem paga e poderosa do País. Também a mais misteriosa. Superintendente da Globo, ela responde apenas à família Marinho. Raramente dá entrevistas, odeia festas ou "shows pessoais", e quase nunca se deixa fotografar. Nem por isso conseguiu evitar a fama. Formada em psicologia, é alvo de maldades: dizem que ela só é o que é porque tem "um grande homem por trás" - no caso, o marido, Eurico Carvalho da Cunha, professor da FGV. "Mais importante do que o brilho das pessoas é o time", disse a ISTOÉ, evitando maiores comentários sobre sua vida.

COM AROMAS DA ROÇA

Cultiva plantas sem cheiro, mas fez um império de perfumes com 711 lojas de Norte a Sul do País
Elisabeth Pimenta
Água de Cheiro, cosméticos
Faturamento: R$ 70 milhões


Ávida por começar um bom negócio, a mineira Elizabeth Pimenta, 47 anos, teve a idéia de comercializar, em 1976, uma loção popular feita com produtos da terra. Deu certo. Passados 20 anos, o grupo Água de Cheiro é a segunda maior rede de franquias do setor e a quarta do Brasil. São 2,4 mil empregados, 711 lojas e fábricas. A Água de Cheiro produz 240 itens, entre perfumes, batons, bronzeadores e xampus. "Apostei no setor de perfumaria quando a produção nacional era inexpressiva e os impostos de importação inviabilizavam a compra dos perfumes estrangeiros", diz. Por ironia, o seu passatempo é cultivar uma planta sem cheiro. Nos finais de semana, Elizabeth, o marido e os três filhos partem rumo à fazenda no interior de Minas. É lá que ela se dedica ao hibisco, uma flor originária da Ásia. Já contabiliza mais de cinco mil mudas, e iniciou o hobby de olho em sua aposentadoria. Há três anos abriu uma firma de cultivo e venda de mudas, a Encosta dos Hibiscos. A paixão é tanta que, desde o ano passado, as caixas e embalagens da Água de Cheiro trazem desenhos de hibiscos estampados. Quando está em Belo Horizonte, seu lazer é ficar com a família em seu elegante apartamento no bairro da Serra.

Nada mau para quem começou o empreendimento adquirindo perfumes de um pequeno produtor para revender na loja, estabelecida no bairro da Savassi, na capital mineira. O sucesso foi estrondoso. Foram mais de 12 mil frascos vendidos em menos de dois meses. "Somos também os pioneiros do sistema de franquias no Brasil", garante Elizabeth. Em 1983, a empresária comprou a fábrica de seu fornecedor e passou a produzir suas próprias fragrâncias. Desde então, a empresa não parou mais de crescer. Fatura por ano R$ 70 milhões.

DOBRANDO OS JAPONESES

O primeiro salário equivalia em dinheiro de hoje a R$ 8 mil. Era muito para a jovem Mitiko Ogura, então com seus 20 e poucos anos. Naquela época, meados dos anos 70, a nisei, recém-formada em engenharia eletrônica, acabava de ser contratata como executiva da Yashica do Brasil, não sem antes relutar - integrante do movimento estudantil, ela não estava disposta a "dar lucros para uma multinacional". Mal sabia que naquela mesma multinacional, começaria uma trajetória de êxitos. Hoje, aos 48 anos, Mitiko já deixou a Yashica, mas os negócios que tem no momento são fruto do que plantou na companhia. Ela é dona da Sterilair e representante no Brasil da marca japonesa Aiwa, de aparelhos de som. Juntas, as duas empresas faturam pouco mais de R$ 30 milhões anuais. Mitiko, pessoalmente, tira por ano algo próximo de R$ 3 milhões.

A Sterilair foi a grande tacada da empresária. Mitiko descobriu o invento - esterilizador que elimina ácaros e fungos - quando ainda estava na Yashica, fabricante de câmeras fotográficas. Levou dois anos para convencer os japoneses da matriz a fabricar o produto. A espera compensou. O Sterilair foi um sucesso comercial e virou nome da sua empresa. Proporcionou a ela projeção no mundo empresarial e um convite para ser representante da Aiwa. Mitiko colheu um invejável padrão de vida. Divorciada, mora numa mansão na Chácara Flora, em São Paulo, com sete empregados e quatro filhos. Nos finais de semana, cultiva o exuberante jardim que tem em casa. É uma metáfora de sua vida. "Se você tem um jardim, é preciso respeitá-lo. Devemos merecer o que temos", ensina a delicada Mitiko.

Do Divã, Á Moda

Jipe Vitara de presente ao marido para mostrar que é independente financeiramente
Flavia Rocha
Fendi-Infinitá, griffes
Faturamento: R$ 10 milhões


A psicóloga Flavia Rocha Dichy, 35 anos, sempre soube que seu negócio era o mundo da moda. Tanto que largou o consultório oito meses depois de começar. "Não era justo ter uma pessoa ali, na minha frente, falando de seus problemas e eu pensando que o vestido tal ia ficar um luxo", conta. Passou a vender roupas em casa. Meses depois montava sua primeira butique, a Infinitá, em São Paulo. Hoje, sete anos depois, é dona de cinco lojas e representante das griffes italianas Fendi e Trussadi e da americana Joan & David. Tem confecção própria e comanda 60 funcionários. Garante que seu empreendimento cresceu sem ajuda do marido, o empresário Samir Dichy. "Gosto de me sentir independente". Provou isso há dois anos: presenteou Dichy com um jipe Vitara, avaliado em R$ 30 mil. Quase nada para quem pretende faturar cerca de R$ 10 milhões em 1996.

Ela vai pelo menos quatro vezes por ano para Nova York e outras tantas para Miami, onde tem apartamento. Dessas viagens sempre volta carregada de pacotes que vão abastecer seu guarda-roupa, uma paixão que a levou a transformar um dos quartos do apartamento em que mora, nos Jardins, em closet. "Adoro fazer compras". Bom hobby para quem vive de moda.

DE PAI PARA FILHA

Protótipo da mulher de sucesso, modelo de businesswoman, exemplo de administradora. Há poucas coisas que a sócia e diretora executiva do Banco Icatu, Maria do Carmo Nabuco de Almeida Braga, 43 anos, odeie mais do que rótulos desse tipo. Por quê? "O sucesso é sempre resultado de esforço coletivo, não há porque destacar uma pessoa", justifica. Mas, mesmo sem querer, ela chama atenção para si desde 1993, quando tomou as rédeas de seu próprio negócio junto com o irmão Luiz Antonio. No início, Kati, como é tratada pelos amigos, foi recebida com dúvidas. "Na época, comentava-se que seria mais uma dondoca a brincar de executiva", lembra o concorrente Luiz César Fernandes, do Banco Pactual. "Acabou mostrando grande competência."

O Icatu foi criado há dez anos, quando o pai de Kati, o banqueiro Antonio Carlos de Almeida Braga, resolveu deixar a presidência do Bradesco e voltar para Portugal, sua terra natal. O objetivo da empresa era administrar os negócios da família, mas foi além. De 1993 para 1994 o patrimônio já havia dobrado e hoje supera R$ 200 milhões. "Sou uma executiva sem estilo", define-se. Suas principais qualidades são relacionadas por Daniel Dantas, ex-parceiro no Icatu e atualmente à frente do Opportunity. "Ela abriu a empresa sem experiência. Conseguiu aprender e gerir ao mesmo tempo", elogia. As ações de Kati, como ela mesma admite, são inspiradas no que aprendeu com o pai e ex-chefe. Quando não está mergulhada no trabalho, ela vai para sua fazenda no interior de Minas. "Um dia pretendo me tornar uma boa fazendeira", planeja.

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