Por que as vezes gostamos de quem não gosta de Nós?


DRA. TERESA PAULA MARQUES
Psicóloga
Especialista em Psicologia Infantil e do Adolescente




Todos sabemos que o modo como as relações afetivas se desenvolvem, mudou muito nas últimas décadas. Em outros tempos, um envolvimento sexual era o culminar de todo um percurso, muitas vezes longo, de conversas, jantares e troca de promessas.


Hoje, algumas pessoas consideram que as relações entre um casal mudaram de perspetiva, ou seja, começam pela relação sexual e, depois disso é que pode haver, ou não, um estreitamento de laços. Certo é que muitos encontros não passam da primeira noite. Outras duram um pouco mais até que, subitamente, tudo acaba. Depois é sempre difícil de aceitar e, sobretudo, compreender o que se passou, o que correu mal?


Afinal, se não houvesse interesse, porque é que ele teria falado da sua infância, dos seus traumas da adolescência, na ex-namorada ...as dúvidas amontoam-se e as respostas não chegam para tapar o buraco que se vai abrindo no peito.


A rejeição dói, danifica a auto-estima e condiciona o futuro, em termos afetivos. Num primeiro momento, passada a fase da perplexidade, surge a raiva. Raiva contra o outro, aquele que nos enganou, que nos fez ver coisas que não existiam, que permitiu que erguêssemos castelos no ar que se estatelaram no chão.


A raiva nos leva a colocar para fora a dor em forma de desabafo, muitas vezes agressivo e deslocado do real, mas que encontra sempre interlocutores decididos a colocar mais lenha na fogueira. As amigas juntam em torno de um tema comum e todas têm uma história para contar, o quanto mais terrível melhor.


Chamar nomes, inventar amantes, tudo vale desde que permita denegrir a imagem do visado. Mas esta fase não dura muito, e nunca é eficaz para evitar a seguinte – a culpa. Onde falhamos? Ninguém aceita de uma forma natural, que subitamente aquela pessoa que nos achava o máximo, não nos deseje mais, ou pior ainda, nos considere desinteressantes.


É preciso compreender o incompreensível, encontrar algo palpável onde nos possamos agarrar e chorar a nossa perda. Faz parte de todo o processo de luto e o desgosto amoroso é uma perda semelhante a outra qualquer, pelo que surge a necessidade de encontrar um culpado, nós ou ele, que possamos acusar.


Depois de o crucificarmos na praça pública, resta voltarmos para nós próprias e ampliarmos os nossos defeitos, até que fiquem incomportáveis. Nos achando gordas, feias, velhas, desinteressantes ao máximo, de certo modo procuramos lhe dar razão.


O isolamento para algumas, a impulsividade das compras para outras, serão os passos seguintes. Após esta autêntica travessia no deserto, um dia acordamos e vemos que tudo passou. Erguemos de novo e constatamos que afinal até sobrevivemos.


Nessa altura dois caminhos se avizinham: aprender com a experiência ou transformá-la num padrão. Existem pessoas para as quais tudo isto se repete, vezes sem conta. Negligenciam os sinais, não ligam aos avisos dos amigos e conhecidos e vão em frente.


O objetivo, ainda que seja difícil de perceber, é o de reparar a ferida narcísica, fruto de desamores do passado. Insistem em manterem por perto de pessoas que lhes fazem mal, que as desvalorizam, que perante o primeiro problema se colocam a milhas. Assim, vão destruindo cada vez mais a auto-estima, a ponto de dificilmente ter conserto.


Além da procura inconsciente de reparação narcísica, por detrás destas atrações fatais pode estar também o medo do compromisso. É que nos apaixonarmos pelo impossível, pode causar sofrimento mas mantém-nos seguros quanto a esse aspecto.

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