Estudo sugere inversão de papéis entre homens e mulheres pré-históricos

AFP


Exemplar de Australopithecus africanus (null, null)


Cientistas demonstraram evidências, de que duas espécies de homens das cavernas remotos viveram e morreram perto dos locais onde nasceram, enquanto a maioria das fêmeas da mesma espécie se estabeleceu ali após migrar de muito longe.


O estudo, publicado na revista científica Nature, oferece um olhar sem precedentes ao tecido social dos australopitecinos, uma extinta linhagem, relacionada com os humanos, que viveu no sul da África há cerca de dois milhões de anos.


Também contesta a ideia de que nossos antepassados mais distantes teriam começado a caminhar em duas pernas, ao invés de em quatro patas, para percorrer grandes distâncias em busca de abrigo e comida.


Segundo a descoberta, se os machos limitaram suas viagens às atividades de caça e coleta, então a mudança para a posição ereta deve ter sido influenciada por outras necessidades.


Até agora, muito pouco se sabia sobre o estilo de vida e os padrões de relacionamento familiar dos nossos ancestrais de duas pernas.


"Crânios sem esqueleto e dentes são sabidamente comunicadores pobres", brincou Matt Sponheimer, professor de antropologia da Universidade do Colorado, em Boulder, co-autor do estudo.


Para o novo estudo, os cientistas desenvolveram um método digno de Sherlock Holmes para "fazer estes ossos velhos falarem", explicou Sponheimer.


As pistas comportamentais estavam trancadas em um punhado de dentes, com cerca de dois milhões de anos de antiguidade.


Minúsculas variações nos átomos de um elemento metálico pesado denominado estrôncio correspondem a vários tipos de solo e rochas, atuando como um marcador de localizações geográficas identificáveis.


Devido a que o estrôncio age desta forma no esmalte dos dentes apenas nos primeiros anos de vida, o elemento químico revela, assim, se um primata cresceu no mesmo lugar onde viveu e morreu.


Os cientistas examinaram dentes de 19 indivíduos que viveram de 2,4 milhões a 1,7 milhão de anos atrás: 8 'Australopithecus africanus' e 11 'Paranthropus robustus'.


Ambas as espécies viveram em savanas arborizadas, provavelmente subsistindo graças a uma mistura de frutas, grama, sementes e nozes.


Na amostragem, machos e fêmeas foram diferenciados com base no tamanho.


Análises a laser dos isótopos de estrôncio demonstraram que apenas 10% dos machos se originaram fora de um raio de 30 quilômetros quadrados, contra mais da metade das fêmeas.


Em outras palavras, os homens provavelmente só se aventuravam, raramente, a mais de alguns quilômetros de suas cavernas.


Suas companheiras femininas, no entanto, com frequência haviam migrado de longe, mesmo que depois tenham adotado o mesmo estilo de vida próximo à casa, depois de terem se estabelecido no local.


"Aqui nós temos o primeiro olhar direto nos movimentos geográficos dos hominídeos mais remotos e parece que as fêmeas preferencialmente deixaram seus grupos residenciais", disse Sandi Copeland, também da Universidade do Colorado, e principal autor do estudo.


A prática de mulheres deixarem seu núcleo familiar para acompanhar a família dos companheiros tem sido comum na maior parte das culturas, ao longo da história. Os chimpanzés e os bonovos também seguem o mesmo padrão.


Mas, a maioria dos outros primatas, inclusive os gorilas, faz o oposto: as fêmeas permanecem com o grupo no qual nasceram, enquanto os machos se mudam para outros lugares.


A descoberta foi uma supresa e pôs em questão o senso comum sobre como os primatas deixaram de se mover em quatro patas, tornando-se bípedes, afirmaram os cientistas.


"Presumíamos que a maior parte dos hominídeos fossem originários de áreas não locais, já que geralmente se pensava que a evolução do bipedismo se devia, em parte, a permitir que os indivíduos percorressem maiores distâncias", disse Copeland.


"Mas estes pequenos deslocamentos podem inferir que o bipedismo evoluiu por outras razões", acrescentou.

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