Açucar pode causar efeito semelhante ao da Cocaina no Cérebro

Jordana Cunha dos Santos



De acordo com o estudo, o açucar provoca efeitos semelhantes
ao da Cocaina em nosso cérebro.



O açucar pode causar um efeito no cérebro semelhante ao da cocaína, segundo estudos recentes realizados nos EUA. Actualmente, há evidências convincentes de que os alimentos ricos em gordura, açucar e sal podem alterar a química do cérebro, da mesma forma como drogas altamente viciantes, como a cocaína e heroína.

Alguns cientistas dizem que há dados suficientes para justificar a regulação governamental do sector de 'fast food' e as advertências de saúde pública sobre os produtos que têm níveis perigosos de açucar e gordura. Um advogado afirmou que pode até haver provas suficientes para organizar uma luta legal contra a indústria do 'fast food' por vender alimentos prejudiciais à saúde, ecoando as ações judiciais contra a indústria do tabaco nos anos 1980 e 1990.

''Temos que educar as pessoas sobre como os seus cérebros são hipnotizados por gordura, açucar e sal'', disse David Kessler, ex-comissário da FDA (agência reguladora americana de alimentos e medicamentos) e agora diretor do Centro para Ciência no Interesse Público, com sede em Washington DC.

Antes de haver qualquer evidência científica sobre os malefícios do açucar, foi a indústria de perda de peso que introduziu a ideia ao público. Por exemplo, no livro 'Lick the Sugar Habit', publicado em 1988, a autora Nancy Appleton, auto-declarada viciada em açucar, ofereceu uma lista de verificação para determinar se os leitores também eram viciados em açucar. Desde então, o conceito tornou banal.

Em 2001, fascinado pelo fenômeno cultural emergente, os neurocientistas Nicole Avena, agora na Universidade da Florida, em Gainesville, e Bartley Hoebel, da Universidade de Princeton, começaram a explorar a ideia de se ter uma base biológica. Ambos começaram a procurar sinais de vício em animais que eram alimentados com 'junk food'.

O açucar é um ingrediente chave na maioria da 'junk food', por isso ofereceram um xarope da substância a ratos, de concentração similar ao do açúcar presente num refrigerante comum, durante cerca de 12 horas por dia. Ao mesmo tempo, outros ratos eram alimentados com água e comida normal.

Depois de apenas um mês nessa dieta, os ratos desenvolveram mudanças de comportamento no cérebro, identificadas por Avena e Hoebel como idênticas às dos animais viciados em morfina. Ainda demonstraram um comportamento ansioso quando a calda foi removida.

Os pesquisadores notaram que os cérebros dos ratos liberavam o neurotransmissor dopamina cada vez que tomavam a solução de açúcar, mesmo depois de terem bebido por semanas.

A dopamina conduz à busca do prazer - seja comida, drogas ou sexo. É um produto químico do cérebro vital para a aprendizagem, memória e tomada de decisão. ''Eu esperava que fosse libertada quando eles comessem um alimento novo'', afirma Avena, ''Não com o que eles já estavam habituados. Essa é uma das marcas da dependência de drogas''.

A evidência encontrada foi a primeira concreta de uma base biológica para a dependência do açúcar que inspirou uma série de estudos com animais.

Os resultados estão entre as novidades mais interessantes em pesquisas de obesidade dos últimos 20 anos, de acordo com Mark Gold, autoridade internacional em estudos sobre alcoolismo e chefe do departamento de psiquiatria da Univercidade de Medicina da Florida.

Desde o estudo de Avena e Hoebel, dezenas de outras pesquisas em animais confirmaram os resultados. Mas foram os recentes estudos em humanos os responsáveis pelas evidências em favor da rotulagem de 'junk food' como um vício.

O vício é vulgarmente descrito como um entorpecente dos circuitos de recompensa desencadeado pelo uso excessivo de alguma droga. Isto é exatamente o que acontece no cérebro de indivíduos obesos, segundo Gene-Jack Wang, presidente do departamento médico do US Department of Energy´s Brookhaven National Laboratory, em Upton, Nova Iorque.

Em utro estudo, publicado em 2001 na revista The Lancet, o cientista descobriu uma deficiência de dopamina no estriado do cérebro de indivíduos obesos que era praticamente idêntico ao dos dependentes de drogas.

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