O Que é Vaginose?

Com Paula Nogueira



Durante muitos anos o termo vaginite inespecífica foi usado para designar corrimento vaginal cuja causa não era Trichomonas vaginalis ou Candida spp. Em 1955 Gardner e Dukes definiram clinicamente essa afecção, denominando-a "vaginite por Haemophilus vaginalis". Desde então es- se microorganismo foi renomeado Gardnerella vaginalis.

Atualmente a vaginite por Haemophilus vaginalis é chamada de vaginose bacteriana (ou vaginose anaeróbica no Reino Unido) por causa da ausência de inflamação no epitélio vaginal. Outros usam o termo bacteriose vaginal, que significa excesso de bactérias na vagina. Supõe-se que a vaginose bacteriana resulte de uma interação complexa de muitas espécies de bactérias. Gardner e Dukes acreditavam que a doença fosse causada por G. vaginallis porque observaram que ela estava presente em mulheres sem essa afecção.

Em retrospecto, parece que eles não puderam recuperar a G. vaginalis neste último grupo porque o meio de cultura era inadequado e nas mulheres com vaginose bacteriana o número desses microorganismos é muito maior que nas mulheres sem essa afecção. O uso de técnicas de cultura mais sensíveis mostra que cerca de 50% das mulheres assintomáticas são colonizadas por G. vaginalis.

Epidemiologia

A vaginose bacteriana é a causa mais comum de vaginite mas sua epidemiologia ainda é pouco conhecida. Não é considerada DST, apesar de ser associada com grande número de parceiros e rara em mulheres não sexualmente ativas. O tratamento dos parceiros sexuais não é recomendado porque nenhum estudo documentou que essa conduta diminua a recidiva da vaginose bacteriana. Apesar da associação com DIU e história de tricomoníase, a maioria das pacientes não têm fatores de risco identificáveis para vaginose bacteriana. Sem tratamento a afecção pode ser autolimitante, recidivante ou crônica.

Manifestações Clínicas

Em 1983 o International Working Group on Bacterial Vaginosis estabeleceu critérios clínicos para o diagnóstico de vaginose bacteriana. Muitos casos são assintomáticos e diagnosticados somente em exames de rotina. Algumas dessas pacientes no entanto são apenas aparentemente assintomáticas, porque após o tratamento notam desaparecimento de mau cheiro ou pequeno corrimento vaginal dos quais até então não se tinham dado conta.

Esse achado pode ser atribuído ao fato de que muitas mulheres consideram o mau cheiro vaginal mais um problema de higiene do que um sintoma resultante de infecção. As mulheres portadoras de vaginose bacteriana podem se queixar de corrimento ou mau cheiro vaginal. Nos casos de vaginose bacteriana sem outras infecções genitais, 90% das pacientes se queixam de mau cheiro e 45% de irritação vaginal.

O corrimento, tipicamente leitoso, aderese na parede vaginal. A mucosa da vagina e da vulva têm aspecto normal, a falta de inflamação levou ao uso de vaginose em vez de vaginite. O termo vaginose não implica ausência de polimorfonucleares leucócitos na estrutura úmida da vagina. Em um terço dos casos há mais de 30 neutrófilos por campo de grande aumento.

O exame da paciente com queixa de corrimento ou mau cheiro vaginal inclui a avaliação segundo critérios para diagnóstico de vaginose bacteriana. O odor da secreção vaginal deve ser testado pelo ato de cheirar o espéculo após sua retirada ("teste de cheirada"); a secreção vaginal normal não tem odor desagradável. Se o teste for negativo executa-se um procedimento mais sensível para detecção de aminas, que consiste na mistura de algumas gotas de secreção vaginal e de hidróxido de potássio (KOH) a 10%, A mistura deve ser cheirada imediatamente para pesquisa de odor craccterístico e transitório de "peixe morto" da vaginose bacteriana. O hidróxido de potássio aumenta o pH, volatizando poliaminas como putrescina, cadaverina e trimetilamina. Muitas mulheres percebem o odor desagradável logo após o coito, porque o sêmen, com pH de 8,0, alcaliniza o fluido vaginal e libera as aminas voláteis.

Tratamento

Sendo a vaginose bacteriana causada por um desequilíbrio no ecossistema vaginal, alguns clínicos têm usado drogas homeopáticas como iogurte, gel de ácido acético, gel de ácido láctico e cremes hormonais. Nenhum desses tratamentos se mostrou mais eficaz que o placebo em estudos cuidadosamente controlados. É possível que a recolonização vaginal com cepas humanas adequadas de lactobacilos possa ser útil em conjunto com o tratamento antimicrobiano, mas até agora nenhuma cepa comercialmente disponível se mostrou benéfica. Numerosos estudos recentes relacionaram a vaginose bacteriana com complicações da gravidez, incluindo parto precoce, prematuridade e infecção de líquido amniótico. A preocupação com efeitos teratogênicos e carcinogênicos potenciais do metronidazol limita seu uso durante a gravidez, mas essa droga é considerada segura para uso no segundo trimestre.

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