De acordo com Pesquisa, Violência contra mulher é mais visivel

Renata Machado

O número de ocorrências registradas junto às três Delegacias de Polícia de São Leopoldo revela que a violência contra a mulher está mais visível do que nos últimos quatro anos. De uma média de 2 mil registros anuais mantidos até 2008, os atendimentos aumentaram para 2,6 mil em 2009. Os números fazem parte de uma pesquisa feita pelo Centro Jacobina – local criado pela Prefeitura para atender mulheres vítimas da violência doméstica – durante o período de 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra a mulher, que se iniciou em 25 de novembro e se encerrou.

A pesquisa também revelou que do total de agressões registradas nas delegacias, grande parte não chega ao Centro. De janeiro a julho deste ano, aproximadamente 1,3 mil boletins de ocorrência foram registrados nas delegacias, enquanto apenas 339 mulheres foram atendidas no Centro.

Segundo a secretária Políticas para Mulheres, Euli Necca Steffen, pelo menos duas mulheres foram mortas de maneira violenta em novembro, em São Leopoldo. Uma esfaqueada na Feitoria e a segunda na Vila Nova. Um terceiro caso, de uma mulher esfaqueada, está sendo verificado pela Secretaria de Políticas para Mulheres. "De 2005 até agora não tínhamos registrado a morte de mulheres. Neste ano, pelo menos duas comprovadamente sofriam violência há tempo e morreram sem ter tido atendimento. Isso mostra que nossos desafios ainda são grandes.’’

Para tornar o Centro Jacobina e a Secretaria de Políticas para Mulheres mais conhecidos, a coordenadora do Centro de Referência, Angela Pereira, organiza oficinas de sensibilização contra a violência nos bairros. "As mulheres têm enfrentado mais a violência que parte do marido ou companheiro, mas o uso de álcool e drogas como o crack estão aumentando os índices. A mulher é mais vulnerável e a primeira a ser atingida pelo neto, filho, genro, nora’’, explica Angela. Segundo ela, especialmente a mulher idosa tem sido vítima de violência.

É preciso coragem para denunciar
"Não podemos ter medo da violência, temos que denunciar’’, diz uma mulher de 39 anos que esteve na última semana no Centro Jacobina para denunciar a agressão física que sofreu do irmão. "Minha casa caiu com as chuvas e fui morar com minha mãe, mais os meus seis filhos. Meu irmão acha que estamos incomodando, que as crianças fazem muito barulho. Por isso foi até lá, me xingou e meu deu um tapa no rosto.’’ Foi a primeira vez que a moradora da Paim registrou ocorrência, porque seu irmão ameaçou bater nos filhos dela. "Quando se está passando por uma situação difícil, o tapa dói muito mais. Tudo que eu precisava era de amparo, não de agressão’’, disse, enquanto chorava.

Segundo delegado, a lei protege todo tipo de violência
O delegado Mauro Duarte Vasconcellos explica que a Lei Maria da Penha trouxe coragem para as mulheres denunciarem o companheiro, o marido. "Antes, a violência ficava no âmbito doméstico. Porque violência não é uma novidade’’, diz. Segundo o delegado, a Lei Maria da Penha abrange a violência doméstica como um todo, não somente quando se trata do companheiro.

"Já flagrei um neto que agredia a avó para comprar drogas’’, revela. Álcool e crack são componentes presentes na maioria dos casos. "São Leopoldo tem um diferencial que é a parceria com a Prefeitura, que cede equipes de acolhimento como assistente social para atuarem nas delegacias’’, diz.

Para ter a proteção da Lei Maria da Penha é necessário que a vítima tenha algum vínculo familiar com o agressor.

Epidemia do crack está no topo das causas dos ataques
Segundo a assistente social que atua junto à 2.ª Delegacia de Polícia de São Leopoldo, Ana Cláudia Iegli da Silva, as mulheres agredidas chegam sempre muito fragilizadas. "O maior índice de atendimentos da Lei Maria da Penha são referentes aos filhos que usam crack e agridem as mães. Eles roubam e cometem a violência. A partir daí elas procuram o serviço’’, conta a assistente.

Lidando diretamente com os casos, Ana comenta que é rara uma denúncia de violência que não esteja atrelada ao uso de álcool ou drogas. "Claro que existem casos onde pesa o desemprego, a situação econômica que gera conflitos, mas 90% é em função de drogas’’, diz Ana.

O Serviço de Apoio para Pessoas em Situação de Violência Doméstica existe nas três delegacias de São Leopoldo e conta com psicóloga e assistente social cedidas pela Prefeitura, para atenderem às mulheres. A 2.ª DP Móvel leva uma série de serviços, assim como a equipe de apoio à mulher, para os bairros da cidade.

Entre os números no Estado, no primeiro semestre deste ano, 134 mulheres foram assassinadas no Estado, e destas, 13 em Porto Alegre e 28 na região metropolitana.

Exposição mostra elementos que expressam as agressões
Ainda é possível visitar, até o dia 10 de dezembro, a exposição Casa Doce Lar, que está sendo apresentada junto à Estação São Leopoldo do trensurb.


A mostra consiste em uma casa montada com todos os elementos que expressam a violência sofrida pelas mulheres, inclusive por crianças e adolescentes. A casa ficará aberta até o dia 10 de dezembro das 10 às 22 horas.

Esteio batalha por uma delegacia
Os órgãos destinados à mulher existentes no município são a Coordenadoria da Mulher, coordenada por Rejane Cunda Hermes, e o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, presidido por Suzana Nardi, também representante da Liga Feminina de Combate ao Câncer.

Tanto a coordenadoria quanto o conselho foram criados em 2009, de acordo com a Gestão Integrada Participativa, adotada pela atual Administração Municipal. A coordenadoria também está trabalhando na confecção do Plano Municipal de Políticas Públicas. Em março, representantes do Executivo visitaram a Secretaria Estadual de Segurança Pública para solicitar formalmente uma delegacia da mulher na cidade. A proposta ainda está em discussão.
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Capela de Santana busca serviço
Foi assinado em novembro, na Famurs, em Porto Alegre, um acordo de cooperação para a implantação de políticas de enfrentamento à violência contra as mulheres. O acordo é entre o governo federal e municípios. "Precisamos receber recursos para desenvolver ações e estamos aguardando orientações. A implantação de serviços deve ser executada até 2011’’, diz a secretária de Saúde e Ação Social, Leci Catarina Viegas. O que existe atualmente na cidade é o atendimento de assistentes sociais da prefeitura que encaminham denúncias à Delegacia de Polícia.

Atendimento especial em Portão
Em Portão existe o posto de atendimento à mulher que funciona junto à Polícia Civil. "O atendimento à mulher ocorre em parceria entre a Ação Social e o posto de atendimento junto à delegacia. Não há denúncias de casos mais graves, e quando ocorre, a assistente social dá o amparo à mulher agredida’’, diz o secretário de Ação Social, Argeu da Silva.

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